sexta-feira, 19 de março de 2021

dia de José


“Olhe o que foi, meu bom José / se apaixonar pela donzela / dentre todas a mais bela / de toda a sua Galileia...”

Trecho de José, versão de Nara Leão da música do egípcio-francês Georges Moustaki, disco Le Métèque, 1969.
A letra faz uma espécie de clamor pela sina do bom carpinteiro ter a responsa de ser pai do Salvador, o rebento sagrado que “andou com estranhas ideias / que fizeram chorar Maria...” A letra ainda questiona o vacilo de José, pois ele poderia “casar com Débora ou com Sara / nada disso acontecia / mas você foi amar Maria...”. Há uma leitura no subtexto que o filho não era dele, e sim do Espírito Santo. José teria sido o primeiro “pai de aluguel”.
No Brasil a música ficou conhecida no pouco conhecido primeiro álbum solo de Rita Lee, quando ainda estava nos Mutantes, Build up, 1970, produzido por Arnaldo Baptista e Rogério Duprat.
A interpretação da futura ovelha negra da música popular brasileira é singela, de uma candura que remete hoje à voz minimalista da amapaense-mineira Fernanda Takai. A música entrou no disco por insistência de Rita Lee, contrariando os produtores que consideravam que “pegava mal roqueristicamente falando.”
Build up, disputado como raridade no mercado cult dos vinis, é aquele em que a cantora está com franja e fazendo um leve biquinho de menina aborrecida.
Hoje é feriado local em minha querida Fortaleza, que já vive feriados há tantos e tantos dias, agravada pelo caos sanitário. Dia de São José, dos Carpinteiros, dos Marceneiros, padroeiro de todo o terral Ceará, dos sertões, vales e serras.
Rogai por nós, meu santo, derramai uma chuva de bênçãos sobre esse povo que de joelhos reza um bocado. Conclame uma legião com São Francisco de Canindé e padre Cícero de Juazeiro do Norte, convoque Sua Nossa Senhora de Assunção, padroeira da cidade, chame padre Mororó, revolucionário que liderou o repúdio de Quixeramobim ao autoritarismo do D. Pedro I, e Bárbara de Alencar, nossa heroína da Confederação do Equador, façam uma frente de querubins e serafins e intercedam junto ao Seu rebento sagrado por nossa saúde, façam o mal inclemente se arretirar, e benzam a sabedoria da ciência na cabeça dos homens.
Desculpe, São José, pedir a toda hora pra chegar logo a vacina para todos, nesse sofrimento que queima o meu Ceará, e o nosso Brasil, com essa excrescência genocida na presidência que não vale um pequi roído.
Acima, pintura São José, o Carpinteiro, de Georges de La Tour, 1640, atualmente no Museu do Louvre.

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