quinta-feira, 4 de março de 2021

e a primavera não chegou


O vídeo acima foi realizado em março de 2020. O ator português Rui Unas narra o texto
A primavera não sabia, da jornalista e escritora italiana Irene Rivella.
Era o começo da pandemia, com o coronavírus se espalhando pelo mundo. Entre a perplexidade e a esperança, com as ruas vazias, lojas fechadas, pessoas confinadas em suas casas, o texto ressalta que com todo mal invisível disseminando, a primavera com sua natureza de reflorescimento, não sabia desse vírus. Ou melhor, imune, estava acima dele, pois o sol continuava brilhar, os pássaros não paravam de cantar, as andorinhas continuavam chegando com o céu azul. Somente dentro de cada um de nós a escuridão se fazia.
Os dias continuavam com suas manhãs, mesmo com o medo cada vez mais real, com as pessoas adoecendo, com os hospitais lotados. Isolado em suas salas, mirando das varandas o silêncio do mundo, mergulhado nas programações dos streamings, no congestionamento das redes sociais, cada ser humano sem mais sorrisos sob as máscaras, esperava setembro chegar e todo esse pesadelo passar.
O texto de Irene arremata a perspectiva que em breve venceríamos o vírus, “as pessoas saíram às ruas, cantavam, choravam, abraçavam-se os vizinhos”. Mas nada disso aconteceu. Setembro chegou e não trouxe a primavera desejada. O vídeo levado pelas águas de março do ano passado se tornou atual e piorado neste março de febre terçã e no rosto o desgosto.
E entre os perplexos e os esperançosos, aqueles inconsequentes e duvidosos, negacionistas e fundamendalistas, terraplanistas e insensatos, maus que subestimaram o mal e contaminaram parentes, amigos, vizinhos e desconhecidos.
Começo de 2021 e o mundo já à deriva em uma segunda onda do vírus, uma segunda onda de dor, uma segunda onda de lives. Na conta de hoje, dia 4, mais de 2 milhões de mortos por Covid-19 ao redor do planeta. No Brasil, chegando a 300 mil padecidos pela falta de ar ao redor de uma Manaus que se amplia. Não são números, são vidas. Aqueles que conhecemos, aqueles que amamos, aqueles que nos disseram.
Neste nosso continental país tropical, a desesperança equilibrista diante esse ser abjeto, esse gambá presigárcula com o tubo final dos intestinos no cérebro, essa cara de cão, essa alma sebosa que não desocupa da cadeira presidencial, com seu desgoverno genocida a rir de nossa dor que sai no jornal.
E a primavera da vacina a conta-gotas.

Nenhum comentário: