foto Lusitana LM, 1950
Entre 1981 e 1982, o jovem Edgard José Scandurra Pereira estava servindo no Exército, lotado no 2.º Batalhão de Guarda de São Paulo, quando um colega, recruta de nome Esteves, metido a poeta, mostrou-lhe uns versos. Soldado Pereira adorou, e como gostava muito de cantar, numa noite descansando no alojamento, pegou o violão e começou a colocar uma melodia, meio reggae, meio rock, meio qualquer coisa longe dali.
O músico é ele mesmo, o cantor, guitarrista e baterista Edgar Scandurra, e a composição foi gravada no terceiro disco de sua banda, Ira!, “Psicoacústica”, em 1988.
Somente depois da repercussão da faixa tocada no rádio e em shows, intitulada “Receita para fazer um herói”, é que se descobriu que a letra não foi escrita pelo colega de caserna de Scandurra. Trata-se do poema de Reinaldo Ferreira, nascido na Espanha, que fez sua vida literária em Moçambique e adotou nacionalidade portuguesa.
Como esse poema chegou ao recruta Esteves nunca se soube, nunca ficou claro, até porque Reinaldo Ferreira não deixou livros, tudo que escreveu foi publicado em revistas e jornais. Em 1960 a Imprensa Nacional de Moçambique editou “Poemas”, reunindo postumamente toda sua fortuna poética.
É de Reinaldo Ferreira a letra de “Uma casa portuguesa”, fado musicado por Artur Fonseca, célebre na gravação de Amália Rodrigues, em 1953.
Comparado a Fernando Pessoa pela qualidade e inquietações - mas sem nenhum Esteves como heterônimo -, Ferreira virou um ídolo após sua morte prematura, aos 37 anos, de cancro no pulmão, em 1959.
Pelo menos o soldado raso tinha bom gosto pela poesia – diametralmente oposto a sua desfaçatez em assumir a autoria do que não era seu.
foto Lusitana LM, 1950
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