quinta-feira, 11 de março de 2021

em defesa da educação

foto acervo Fundação Anísio Teixeira

"Por mais que busquemos aceitar a morte, ela nos chega sempre como algo de imprevisto e terrível, talvez devido seu caráter definitivo: a vida é permanente transição, interrompida por estes sobressaltos bruscos de morte"

- Trecho de uma carta do educador Anísio Teixeira enviada em janeiro de 1971 ao amigo Fernando de Azevedo, professor, crítico, ensaísta, sociólogo, em Belo Horizonte.
Anísio Teixeira, um dos mais importantes nomes da educação no Brasil, foi um dos idealizadores, junto com Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília, em 1961, e reitor a partir de 1963.

A sua trajetória começa por volta das décadas de 20 e 30, quando elaborou a renovação de ensino através do projeto Escola Nova no Brasil, que defendia a universalização da escola pública gratuita em todos os níveis e sem nenhum vínculo com religiões. Desde quando foi secretário de Educação na Bahia, seu estado natal, defendia a municipalização do ensino e promoção de cidadania e saúde.
Sua passagem na direção da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) e no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), em 1951 e 1952, respectivamente, ampliou a importância da pesquisa e consolidou a educação integral na pedagogia do país.
Em abril de 1964, logo após o golpe, os militares invadiram o campus da UnB, agrediram e constrangeram professores, funcionários e estudantes, destruíram os centros regionais de pesquisas, uma das obras mais importantes na gestão de Anísio Teixeira, que foi sumariamente demitido da reitoria.
À época da carta endereçada a Fernando de Azevedo, o educador trabalhava como consultor da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. No dia 11 de março saiu para almoçar com Aurélio Buarque de Holanda. Foi a pé, o apartamento do lexicógrafo ficava ali perto, no mesmo bairro, Praia de Botafogo.
Anísio Teixeira não chegou ao destino. Foi encontrado três dias depois no fosso do elevador do edifício. A morte, inicialmente informada como acidental, estava cheia de circunstâncias obscuras, contraditórias. Soube-se depois que o educador fora detido a caminho, levado a um quartel da Aeronáutica, e interrogado numa operação que tinha como propósito eliminar intelectuais contrários ao regime militar naqueles terríveis anos de chumbo do governo Médici. O deputado Rubens Paiva desapareça dois meses antes. O corpo de Anísio Teixeira estava de cócoras, com a cabeça sobre os joelhos, as mãos agarradas às pernas, sobre uma poça de sangue. Ao lado, os óculos intactos. A mais tosca e cínica encenação de acidente.
Anísio Teixeira vaticinou inconscientemente sua trágica morte na carta ao amigo, sua vida interrompida em sobressaltos no poço de um elevador.
Clarice Nunes, professora e pesquisadora associada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense, publicou em 2010 o livro Anísio Teixeira, dentro da série Coleção Educadores, iniciativa do Ministério da Educação quando Fernando Haddad comandava a pasta, no segundo mandato do governo Lula.
Em um trecho, no capítulo A obra de Anísio Teixeira como provocação, a autora diz que “O Anísio se torna uma referência entre nós no resgate da memória e da história da nossa sociedade e da nossa educação; no diálogo da ciência com a arte; em projetos de educação que integrem a cultura e o trabalho; na força que nos move na defesa que a educação não é privilégio!”
50 anos hoje de seu assassinato. A vida é permanente transição, por mais que busquemos aceitar a morte, como ele bem disse na carta.

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