foto Roman Bonnefoy, 2009
"O amor pela beleza da natureza e pelas mulheres me levou a Deus; e o amor a Deus, à revolução."
"Uma igreja hierárquica está do lado dos ricos."
“A mensagem de minha poesia é a mesma dos profetas bíblicos, que faziam uma acusação e um anúncio: a acusação da injustiça dominante e o anúncio de um mundo melhor".
Três de tantas das falas que se tornaram aforismos do poeta, escultor, sacerdote e teólogo nicaraguense Ernesto Cardenal, falecido no dia 1° de março do ano passado, aos 95 anos.
A vida inteira dedicada a literatura assim como a causa social cristã, combatendo a ditadura de Anastácio Somoza, e aderindo a revolução sandinista que chegou ao poder em 1979.
Dissidente do governo de Daniel Ortega, que considerava uma nova ditadura, Cardenal dedicou-se cada vez mais à comunidade de camponeses poetas, pintores, artesãos, que criou nos anos 70 no arquipélago de Solentiname, no sul da Nicarágua.
Um dos expoentes da Teologia da Libertação, tinha como prática o objetivo de fazer com que os pobres no país tivessem acesso à cultura, apoiando projetos de alfabetização, fundando livrarias, editora, disseminando o saber, a utopia.
Sua postura custou-lhe caro: em visita à Manágua em 1983, o papa João Paulo II retirou a mão quando Cardenal foi beijá-la na recepção no aeroporto, intimando-o a abandonar o sacerdócio. A humilhação pública foi reparada somente em 2019 pelo papa Francisco que anulou as sanções canônicas aplicadas, revogando a proibição de administrar sacramentos. Deitado na cama no hospital onde estava internado, o sacerdote Cardenal celebrou uma missa em gratidão.
Do primeiro livro, A cidade desabitada, de 1946, ao último, O Evangelho em Solentiname, 2006, sua obra é indispensável para a compreensão da arte com o pensamento crítico.
A religião, a poesia, a política, o homem, tudo na infinitude de Ernesto Cardenal.
foto Roman Bonnefoy, 2009
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