"Boa parte das revoltas, guerras, batalhas, revoluções que ocorreram no
mundo desde a abertura do primeiro poço de petróleo na Pensilvânia, em
1959, tiveram como causa a luta por esse óleo precioso, que fez a
diferença do sucesso ou insucesso das nações."
- Theófilo Silva em seu livro Shakespeare indignado, 2012
Há 156 anos, numa tarde de 27 de agosto, o empresário norte-americano
Edwin Laurentine Drake, conhecido como "Coronel Drake", fez jorrar o
líquido negro das entranhas de 23 metros de profundidade. Ele construiu a
primeira torre de petróleo do mundo, na região centro-atlântico da
Pensilvânia, hoje um dos estados mais industrializados e urbanizados dos
EUA.
Naqueles meados do século 19, o posteriormente chamado
"ouro negro" era apenas um mero, mas bem-vindo, combustível para acender
lamparinas. Não demorou muito, quase nada no tempo, para o precioso
líquido ser destilado com mais precisão e produzir carburantes como
querosene e etc e tal. O resto é história. Bem sabemos. E bebemos
diariamente o petróleo nosso de cada dia em que morremos. Até isopor é
derivado de petróleo.
A foto acima é de Giant, de George
Stevens, rodado em 1955, no Brasil adequadamente intitulado Assim
caminha a humanidade.
Baseado num romance pouco reconhecido de
Edna Ferbes, o filme é ambientado no Texas, no começo dos anos 20, e
narra a história de várias gerações de uma mesma família, tendo como
pano de fundo as mudanças de um país com a descoberta e consolidação do
tal “ouro negro”.
Costurado com a conflituosa relação amorosa
entre três personagens, vividos por Elizabeth Taylor, Rock Hudson e
James Dean, a narrativa consegue de forma magnífica mostrar a
"involução" do ser humano em analogia com o que seria "evolução" e
progresso com o advento do petróleo. Exatamente como discorreu e
refletiu Theófilo Silva no trecho acima.
O filme foi, por outro
lado, divulgado como um legado contra a intolerância racial, por pontuar
essa contenda entre alguns personagens. Mas sempre considerei que esse
grande filme americano – quando Hollywood fazia Cinema mesmo -, muito
além disso.
Giant não trata somente das divergências raciais:
avança na dissecação desse rebanho humano que segue nas relações
amorosas, familiares, nas disputas econômicas, sem medir esforços e
dispostos a desconhecer valores de grandeza do combustível que jorra do
coração das pessoas.
Algo como cada um por si e Deus (ou o Diabo) contra todos – parafraseando a frase de Mário de Andrade, usada em Macunaíma, e aproveitada como título original no filme de Werner Herzog, O enigma de Kaspar Hauser (Jeder für sich und Gott), 1974.
Assim caminha a humanidade, foi o último filme de James Dean. É a sua
melhor atuação, entre os três principais em que trabalhou, Juventude
transviada (Rebel without cause), de Nicholas Ray, e Vidas amargas
(East of Eden), de Elia Kazan.
O belo, carismático e mítico
ator faleceu aos 24 anos, quando Giant ainda estava sendo montado.
James Dean não viu até que ponto a humanidade descaminhou.
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