foto Edward Kaprov, 2015
Em 2002 o historiador egípcio-britânico Eric Hobsbawn, falecido em 2012, lançou Tempos interessantes – Uma vida no século XX, uma autobiografia onde o autor faz um painel do século passado, colocando-se como personagem observador analítico de um tempo, através de sua vivência familiar e intelectual.
Esse tipo de relato biográfico busca o entendimento da história. Alguns anos depois, mais precisamente em 2007, o escritor, ativista e pacifista israelense Amós Oz, escreveu a autobiografia Um conto de amor e trevas com narrativa semelhante, onde 120 anos de memória de sua família, com suas dores, vitórias e paradoxos, alinham-se à turbulenta história de seu país.
Celebridades materializam-se em personagens autênticos, de David Ben-Gurion, um dos fundadores do estado de Israel, ao lendário líder das organizações clandestinas e primeiro-ministro Menahem Begin, passando pela grandeza da poesia hebraica moderna.
Amós Oz, um dos responsáveis pelo movimento Paz Agora, em que advogava pela solução de dois estados Israelense-Palestino, faleceu hoje aos 79 anos. Um vazio na literatura, e neste momento quando, mesmo acusado de “traidor” por Israel, Oz mantinha-se contra invadir territórios e bombardear civis em nome do que o país chama de “seu Deus”. Humanista, dizia que sua qualificação para discutir política era ter ouvido para palavras, e que “eu ergo minha voz e grito sempre para combater uma linguagem corrompida.”
Todos seus livros são apaixonantes, admiráveis, como A caixa preta, 1987, Pantera no porão, 1999, o último, de 2014, Judas, onde através do amor entre um jovem estudante e uma bela e misteriosa garota, questiona as guerras e a fundação do estado de Israel.
Mas a citada autobiografia possivelmente tenha a densidade mais definida e reflexiva de sua obra. A atriz Natalie Portman estreou na direção, em 2015, com o tocante De amor e trevas, baseado no livro. A diretora surpreende com a literalidade narrativa do compromisso de Amós Oz com as palavras, com a história.
Livro e filme traduzem bem o sobrenome que o escritor adotou: força e coragem, o significado de Oz em hebraico.
foto Edward Kaprov, 2015
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