Em dezembro de 1888, em um momento de forte depressão, o pintor
holandês Vincent Van Gogh cortou com uma navalha um pedaço da própria
orelha esquerda. Embrulhou em um lenço e levou para uma amiga, a
prostituta Rachel, que desmaiou ao receber o mórbido presente natalino.
"Guarde com cuidado", dizia um bilhete anexo.
Essa é a versão que conhecemos sobre o fato ao longo desses dois séculos, desde as Enciclopédias Barsa, Delta-Larousse... até a
Wikipédia. Em 2009, os historiadores suíços Hans Kaufmann e Rita
Widegans publicaram o livro A orelha de Van Gogh, Paul Gaugin e o pacto
de silêncio (Van Goghs Ohr, Paul Gauguin und der Packt des
Schweigens), resultado de dez anos de pesquisa, e conta outra história
para a atitude radical do pintor.
No bombástico livro, os autores apontam situações que em parte sabemos,
a relação difícil de Van Gogh com o pintor francês Paul Gauguin.
Morando juntos por um tempo, os dois discutiam muito sobre conceitos e
formas de criação artística, e suas teorias eram sempre incompatíveis.
Van Gogh, de temperamento instável, não se conformava com o plano do
amigo sair do atelier nos arredores de Paris e voltar para a capital.
Queria mantê-lo sempre por perto. Gauguin era um exímio esgrimista, e
numa violenta discussão o fere acidentalmente. Diante da tragédia, sem
quererem repercussão, os dois fizeram pacto de silêncio. Apaixonado pelo
amigo, Van Gogh manteve a história de autoflagelo. Foi internado por um
ano num hospício, e ao sair, no tempo que não se imaginavam as selfies,
postou-se diante do espelho e pintou para a posteridade, e eternidade, o
autorretrato reproduzido acima. O quadro encontra-se exposto no
Instituto de Arte Courtauld, em Londres.
Mas Van Gogh foi ao extremo: suicidou-se dois anos depois, no dia 27 de julho.
O livro de Kaufman e Widegans, em uma investigação preciosa, baseia-se em inúmeras cartas de amigos e dos próprios pintores, relatórios policiais, escritos de testemunhas, notas de jornais. A leitura joga novas luzes sobre os girassóis e nos deixa com a pulga atrás da orelha - sem trocadilhos.
Mas Van Gogh foi ao extremo: suicidou-se dois anos depois, no dia 27 de julho.
O livro de Kaufman e Widegans, em uma investigação preciosa, baseia-se em inúmeras cartas de amigos e dos próprios pintores, relatórios policiais, escritos de testemunhas, notas de jornais. A leitura joga novas luzes sobre os girassóis e nos deixa com a pulga atrás da orelha - sem trocadilhos.
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