quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Antonio Brasileiro


Colagem: foto de Otto Stupakoff, 1969 / recorte JB, 1971

Em setembro de 1971 os compositores Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Sérgio Ricardo, Capinam, Edu Lobo, Marco Valle, Paulo Sérgio Valle, Toquinho, Egberto Gismonti e Ruy Guerra redigiram uma carta-manifesto retirando suas inscrições do VI Festival Internacional da Canção, promovido pela TV Globo, marcado para o final daquele mês. Publicado no Jornal do Brasil, o texto foi um protesto contra a censura. Todas as letras eram submetidas à análise da Divisão de Censura de Diversões Públicas.

Argumentando a intransigência e drasticidade da Divisão na apreciação de suas obras, os signatários se indignavam com “a desqualificação dos que exercem uma função onde a sensibilidade e o respeito à arte popular são prioritários”, referindo-se aos funcionários de plantão do órgão repressor.
Os compositores foram detidos e encaminhados ao Departamento de Ordem Política e Social. Ao subirem as escadas do prédio, no andar abaixo de onde seriam interrogados, Tom Jobim conteve um traço de riso com a ironia a sua frente: a Sala Antônio Carlos Jobim do Museu da Imagem e do Som, inaugurada em 1968. O maestro já tinha reconhecimento internacional, gravara um ano antes o seu quinto disco, Wave.
Enquadrados na Lei de Segurança Nacional, as autoridades justificaram que a atitude daqueles artistas com o manifesto tinha “caráter comunista”. A detenção durou o dia inteiro, longo e calorento. Cada um foi ameaçado enquanto era questionado. O escrivão que interpelou Tom Jobim “simpatizou” com o compositor, lembrou da sala lá embaixo, e disse: "Olhe, o senhor não queira se meter com polícia”, e que ia datilografar uma declaração para ele assinar, colocando “que o senhor não teve intenção”.
Tom enquanto assinava, disse, com uma dosagem sarcasmo: “Deve haver um engano. Eu não sou comunista. Sou pianista. Eu não posso ficar preso porque gosto de tomar uísque em ar condicionado”.
Liberados, mantiveram o que assumiram no manifesto. O evento aconteceu sem a presença dos “comunistas” na concorrência.
Hoje, 97 anos de nascimento do maestro soberano.

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