domingo, 3 de março de 2019

fish are jumping out

Em fevereiro de 1970, Janis Joplin desembarcou no Rio de Janeiro para passar uns dias de férias, curtir o sol de Copacabana. Na verdade, a cantora tentava dar um tempo do seu veneno antimonotonia, fazer uma espécie de "rehab" do lado de baixo do Equador, onde supostamente não há pecado.
Que nada. Era mês "summertime", e pleno carnaval. Foi difícil para Janis ficar indiferente a tanta folia e animação "exótica". Foi ciceroneada pelo fotógrafo Ricky Ferreira, e que lhe hospedou no apartamento quarto-e-sala em que morava, ao encontrá-la vagando e chorando pela areia da praia, depois que fora expulsa do Copacabana Palace por nadar nua na piscina. Acompanhada ainda por sua figurinista, a comissão de frente das farras, incluía um namoradinho americano que encontrou no calçadão de Copa, e mandou ver em todos os passeios que lhe levavam. Não dispensou nada.
Notívaga assumida e baladeira confesso, começaram a farra numa boate no final da av. Atlântida, um local frequentado por prostitutas, marinheiros e maconheiros cantando Kosmic blues. Dá de cara com o cantor Serguei, que conhecera nos Estados Unidos em 1968 - que nunca comeu Janis, o máximo que rolou foi fumar um unzinho juntos na Praia da Macumba, quando fez topless numa boa, e pagou caro com as costas cheias de bolhas pelo solzão carioca.
Naquela época tinha uma boate da moda, no final do Leme, adequadamente chamada Porão 73. O gerente quase barrou a cantora de Mercedes Benz, apesar do copo de vodca na mão, achando que fosse uma das raras mendigas que rondavam por ali. Janis, com sua interpretação visceral, foi lá e cantou "Ball and chain", deixando os mortais presentes em êxtase, entre eles o BR-3 Tony Tornado e... Alcione!
Incansável, e às vezes imprevisível nas atitudes pela sua bipolaridade, Janis Joplin foi a um baile de carnaval do Theatro Municipal, e por causa das roupas coloridas e as axilas peludas, foi confundida como travesti pelos foliões do "ô abre alas, que eu quero passar". Assistiu aos desfiles das escolas de samba na Candelária, e numa entrevista quis saber sobre uma tal cantora chamada "Girl" Costa. Depois pegou uma moto com o seu boyfriend e se mandaram tipo Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson em Easy Rider, para a praia de Arembepe, na Bahia, onde uma comunidade hippie vinda de Woodstock tinha um bagulho do bom.
A meteórica passagem de Janis Joplin no Brasil é inesquecível por muitos que tiveram a oportunidade - histórica! - de acompanhá-la. Todos afirmam que a intensidade em tudo que a cantora fazia, entre maços de cigarros e goles de vodca, escondia uma mulher amargurada, que não dava a mínima para dinheiro e salamaleques.
Oito meses depois, em 4 de outubro, quando gravava o álbum Pearl, seu empresário a encontrou morta em um quarto de hotel, em Los Angeles.

Nenhum comentário: