sábado, 12 de agosto de 2006

os números e as idéias

foto Olhos de Cão Produções

"Ando um pouco desanimado. Fazer cinema no Brasil não combina com criar expectativas. Lançar um filme é um massacre. Creio que o bom das utopias é sabê-las. Tanto tentaram me incutir que esse tal de 'mercado' tinha alguma importância que acabei acreditando. 'A concepção' (de José Eduardo Belmonte, 2005), que produzi, vai fazer os seus 15 mil espectadores, que é um número tão ridículo quanto 30 mil ou 130 mil, que foi o que nossas outras produções fizeram nas bilheterias. Aliás, o Lírio (Ferreira, diretor de 'Árido movie') está certo: quem se interessa por nossos filmes? Na orelha do livro 'Por um cinema sem limite', do Rogério Sganzerla, escrevi algo parecido com isso: hoje importam os números, não as idéias. O que é péssimo e prova nossa derrota. Por isso não faço mais prognósticos. Quem pode filmar no Brasil hoje sem incentivos governamentais a fundo perdido? Só o Fernando Meireles. Isto é mercado. O resto, me desculpe, é ópera. Sem a Grande Mãe, nem mesmo a Globo Filmes existiria."


Paulo Sacramento, diretor, produtor e montador. Dirigiu em 2003 o ótimo e premiadíssimo "O prisioneiro da grade de ferro". O texto acima faz parte de uma enquete na reportagem "Em busca dos 20% do mercado interno", por Maria do Rosário Caetano, publicada na edição de agosto, nº69, da Revista de Cinema. As palavras do Paulo, realistas e não pessimistas, refletem as dificuldades que o cinema brasileiro continua tendo para ocupar seu espaço de exibição nas salas do país.

3 comentários:

Anônimo disse...

É um desabafo. Também espero (e trabalho) por estes dias melhores...


Ab,




paulo

Anônimo disse...

Concordo totalmente com o Paulo. Infelizmente, vejo o momento atual do cinema brasileiro de forma bastante reticente. Não gosto nada de ver as produções da Globo Filmes (filmes como A Dona da história, Sexo, amor e traição, Se eu fosse você, e muitos outros, não acrescentam em nada na minya vida e, acredito, na vida de muita gente). Para mim, isto é um anti-cinema. Porém, como fazer para tornar o nosso cinema auto-sustentável? eu, pelo menos, não conheço uma fórmula eficaz! Mas, como dizia o célebre escritor Oscar Wilde, "Desistir jamis. Um homem só desiste quando está morto e enterrado". Abraços do crítico da caverna cinematográfica.

Claudio Eugenio Luz disse...

E, olha, essa realidade não ronda apenas o cinema; no mercado editorial a paisagem é a seguinte: pague para ser publicado.