quarta-feira, 16 de agosto de 2006

no tempo dos gibis



"Eu não sabia direito o que havia nos gibis. Sabia, sim, da proibição de os ver, folhear, tocar, ler. Apesar disso, na rua, nas calçadas os gibis andavam de mão em mão, sebentos, sujos, rasgados, lidos às escondidas. Como surgiam, quem os vendia, quem os adquiria? Os meninos mais velhos, mais calejados, mais danados tinham o primeiro acesso a esses objetos tão desejados. Os outros, como eu, ficávamos para depois.
Não sei quando me aproximei do primeiro gibi. Lembro, sim, de Búfalo Bill, Tom Mix, Roy Rogers, Bill Elliott, Rocky Lane, Durango Kid, Hopalong Cassidy, Flecha Ligeira, Cavaleiro Negro, Zorro, O Fantasma, Capitão Marvel, Tarzan, Sobrinhos do Capitão, Mandrake e tantos outros heróis.
As histórias em quadrinhos seriam reproduções mais baratas, condensadas das histórias do far-west cinematográfico. Seja como for, fascinei-me pelos heróis dos gibis desde a primeira visão-leitura e durante muito tempo me deliciei com as suas aventuras."

Trecho de uma bela crônica do escritor cearense Nilto Maciel, em seu blog http://niltomaciel.blog.uol.com.br/arch2005-08-07_2005-08-13.html. O autor, sem saudosismo barato, reporta-se aos tempos em que todos nós quando meninos - pelo menos, assim imagino - líamos, colecionávamos e trocávamos as revistas em quadrinhos de nossos heróis, nas portas dos cinemas, antes e depois das sessões de filmes desses mesmos heróis. Era vê-los na tela e tê-los nas mãos, ao alcance de nossos olhos, passando dos limites de nossa imaginação.
Os chamados gibis eram editados pela Editora Brasil-América, a EBAL, criada por Adolfo Aizer, um baiano apaixonado por essas histórias, falecido em 1991. A editora completaria 60 anos de existência em maio do ano passado. Começou a decair nos anos 70, período em que os quadrinhos passaram a vender cada vez menos no mundo todo. A televisão contribuiu muito para isso. Nos anos 50 e 60 a EBAL era líder na publicação do gênero. Nas bancas era possível encontrar mais de 40 títulos mensais, vendendo anualmente milhões de exemplares. Em 1995, após a publicação do livro "O Príncipe Valente", a editora fechou suas portas definitivamente. Hoje o local, no avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, é uma escola e uma gráfica para serviços terceirizados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bom, ler Nirton. Rever citações em torno de gibis e redescobrir a capa de uma revista do Zorro que eu tive quando criança. Seu blog é fantástico.

Nonato

Anônimo disse...

Fui um rato de gibis por muito anos (o que não significa que parei de lê-los. Nada disso, só que hoje leio mais quadrinhos policiais!). Delicioso poder ver imagens de gibis antigos. Um tempo em que a indústria de quadrinhos não estava tão preocupada com guerras, conflitos e todo esse blá-blá-blá de terrorismo. Obrigado por me fazer regressar a um tempo mágico que, infelizmente, não possuímos - pelo menos não ainda - máquina do tempo para revivê-lo. Abraços do crítico da caverna cinematográfica.