"Todo dia em que eu levanto e subo num palco é como se fosse o último show pra mim."
A cantora estadunidense Sharon Jones, nascida na Georgia, na região sudeste ao lado Rio Mississippi, disse em uma entrevista quando esteve em 2015 no Brasil, para uma série de apresentações em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.
Mesmo diagnosticada com câncer, a grande dama do rhythm and blues, do soul e do autêntico funk, não pronunciava como uma sentença, em tom fatalista, mas como um aprendizado diário para enfrentar as dificuldades e respirar as manhãs que a vida lhe oferecia. Dizia que seguia à risca a máxima de Horácio: “...carpe diem, quam minimum credula postero" / “...colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”. O verso do poeta e filósofo epicurista romano, direcionado a sua amiga Leucônoe, está em seu Livro I da trilogia Odes, 23 a.C., aconselhando-a a não procurar adivinhar o futuro.
Sharon Jones gravou seu primeiro disco, Dap Dippin' with Sharon Jones and The Dap-Kings, em 2002, aos 46 anos. Foi "redescoberta" quando Amy Winehouse declarou total influência de sua música. Não à toa, metade das faixas do já
antológico Back to black, 2006, tem a participação de The Dap-Kings, banda que acompanhava a cantora americana desde o início de sua carreira, e que se tornou uma marca indissociável de ritmo e voz, entre os arranjos metais e a vocalista.
antológico Back to black, 2006, tem a participação de The Dap-Kings, banda que acompanhava a cantora americana desde o início de sua carreira, e que se tornou uma marca indissociável de ritmo e voz, entre os arranjos metais e a vocalista.
Sharon se foi numa noite de novembro do 2016, aos 60 anos. Cinco anos antes, no final da tarde de 23 de julho, sua discípula Winehouse foi atendida por médicos em seu apartamento no bairro de Camden Town, em Londres. Não havia mais o que fazer diante do corpo encontrado pelo seu segurança. A cantora teve morte confirmada, oficialmente diagnosticada por parada respiratória provocada por excesso de bebidas alcoólicas depois de um período de abstinência.
Sharon Jones dizia que aproveitava cada dia como partisse em seguida. Amy, como uma Leucônoe às avessas na compulsão do século 21, revelava nos versos confessionais de Back to black, uma de todas de suas composições sobre o amor, seus sortilégios e outros precipícios, que “I died a hundred times”. Tinha morrido mil vezes, a cada noite, a cada show, a cada dia de sua curta e intensa vida. “He left no time to regret”. E nunca manifestou arrependimento por nada, decidiu trilhar seu caminho problemático. "They tried to make me go to rehab, but I said: no, no, no."
E entre Sharon e Amy, depois do último show de cada uma, apenas nos despedimos com palavras. We only said goodbye with words.
foto de Amy, Juan Medina, 2008
foto de Sharon Jones, Ebet Roberts, 2012
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