quinta-feira, 1 de julho de 2021

fotografia alucinada


Em 1975 Januario Garcia era cinegrafista e começou a estagiar como assistente no estúdio de Georges Racz, renomado fotógrafo de origem húngara, naturalizado brasileiro nos anos 50, quando a família veio para cá fugida da Segunda Guerra.

Atuando como freelancer no fotojornalismo, Januário desde os anos 70 participava do movimento negro, e manteve o Documenta Brasileira de Matrizes Africanas, importante arquivo sobre a presença da população negra no país.
Além dessa significativa dedicação, Januário é autor de várias fotos de discos clássicos da nossa música, Chico Buarque, Caetano, Raul Seixas, Lecy Brandão, Edu Lobo, os irmãos Clodo, Climério e Clésio, Fagner...
É dele a belíssima foto da capa de Urubu, que Tom Jobim lançou em 1976. E com a repercussão desse trabalho Januário foi convidado, naquele mesmo ano, para fotografar um rapaz latino americano, Belchior, que estava gravando o seu segundo LP, Alucinação.
No encontro dos dois na Polygram, saíram para conversar sobre a ideia da capa, que tipo foto o cantor imaginava etc. E foi logo ali pelos corredores e numa sala, ao ver e ouvir Belchior cantar a música-título do disco, que Januário entrou no clima da letra e começou a fotografar.
A foto escolhida na folha de contato foi depois trabalhada na saturação colorida por Aldo Luiz e Nilo de Paula, da direção de arte e layout.
Ontem, 30 de junho, no mesmo dia que completaram quatro anos e dois meses que Belchior ficou encantado com uma nova invenção, Januário Garcia faleceu aos 77 anos, vítima de complicações decorrentes da Covid-19, depois de vinte dias internado.
O fotógrafo soma-se ao trágico número de 518.246 vítimas no país à deriva por um desgoverno guiado pelo negacionismo e negocionismo de vacinas.
foto de Januário: Fernando Pires
foto do making off: Acervo Januário Garcia

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