terça-feira, 27 de julho de 2021

então eu escuto


A cantora, compositora, instrumentista e escritora carioca Luli é uma das mais autênticas artistas da música brasileira. Autenticidade que se manifestava pelo comportamento, pensamento e escolha de vida pessoal, em plena década de 70, quando os costumes mais avançados e libertadores eram vistos de viés pelo conservadorismo de uma elite afinada com o regime militar vigente.

Luli, que se destacou na dupla com Lucina, gravando ótimos discos independentes e conceituais, não só rompeu padrões de pressões de gravadoras e amarras estéticas da música, como ousou na prática o ideário da contracultura, ao viverem um casamento a três com o fotógrafo Luiz Fernando Borges (falecido em 1990) e os quatro filhos da relação.
É autora de mais de 800 canções, entre elas Fala e O vira, compostas com João Ricardo, e cristalizadas como mais tocadas do clássico disco do Secos & Molhados, 1973. Aliás, Ney Matogrosso tornou-se um intérprete particularmente emblemático, identificado com as canções da dupla. Pedra de rio, do seu primeiro disco solo, Água do Céu – Pássaro, de 1975, e Bandolero, do álbum Feitiço, 1978, dizem bem dessa alquimia entre intérprete e compositoras.
Em 2015 foi lançado Yorimatã, filme documentário biográfico em longa-metragem sobre as cantoras, dirigido por Rafael Saar, selecionado em mais de vinte festivais e premiado em cinco.
A natureza do mar, dos rios e das matas, é a matéria-prima, orgânica, das músicas de Luli, ou Luhli, como passou assinar nos anos 90. O sítio perto do mar em Filgueiras, em Mangaratiba, RJ, abrigou por muito tempo o coração e as composições da artista.
Luhli partiu para outros sítios no final da tarde do dia 26 de setembro de 2018, aos 73 anos, depois de internada por um mês, tratando-se de um quadro crônico de asma complicado por pneumonia.
Abaixo, uma das mais belas homenagens que o cinema fez a uma canção e sua autoria: o ator pernambucano Irandhir Santos interpreta, coreografa, dubla Ney Matogrosso em Fala, numa sequência do ótimo A história da eternidade, que Camilo Cavalcante dirigiu em 2014.
Na cena, as atrizes paraibanas Marcélia Cartaxo e Zezita Matos e a cearense Débora Ingrid.



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