Em 6 de fevereiro de 1970, Janis Joplin, acompanhada de sua estilista Linda Gravenites, desembarcou no Rio de Janeiro para passar uns dias de férias, curtir o sol de Copacabana. Na verdade, a cantora tentava dar um tempo do seu veneno antimonotonia, fazer uma espécie de "rehab" do lado de baixo do Equador, onde supostamente não há pecado.
Que nada! Era mês "summertime", e pleno carnaval. Foi difícil para Janis ficar indiferente a tanta folia e animação "exótica". Foi ciceroneada pelo fotógrafo Ricky Ferreira, que a hospedou no apartamento quarto e sala em que morava no Lebron, ao encontrá-la vagando e chorando pela areia da praia, depois que fora expulsa do Copacabana Palace por nadar nua na piscina.
Sempre ao lado de Linda Gravenites, a comissão de frente das farras incluía o namorado David Niehaus, turista holandês que conheceu no calçadão de Copa, e mandou ver em todos os passeios que a levavam. Não dispensou nada.
Notívaga assumida e baladeira confesso, começaram por uma boate no final da avenida Atlântida, um local frequentado por prostitutas, marinheiros e maconheiros cantando Kosmic blues. Dá de cara com o cantor Serguei, que conhecera nos Estados Unidos em 1968, e, segundo dizia, tiveram um caso.
No dia seguinte foram à Praia da Macumba, paraíso entre a Pedra do Pontal e o Canal de Sernambetiba, no Recreio dos Bandeirantes, fumaram “unzinho”, enquanto Janis fazia topless numa boa. Pagou caro com as costas cheias de bolhas pelo solzão nas areias escaldantes.
Naquela época tinha uma boate da moda, no final do Leme, adequadamente chamada Porão 73. O gerente quase barrou a cantora de Mercedes Benz, com um copo de vodca na mão, achando que fosse uma das raras mendigas que rondavam por ali. Janis, com sua interpretação visceral, foi lá e cantou à capela Ball and chain, deixando os mortais presentes em êxtase, entre eles o BR-3 Tony Tornado e... Alcione!
Incansável, e, às vezes, imprevisível nas atitudes pela sua bipolaridade, Janis Joplin foi a um baile de carnaval do Theatro Municipal, levada pelo DJ Big Boy, que a reconheceu passeando nas ruas cariocas. Por causa das roupas coloridas e as axilas peludas, foi confundida como travesti pelos foliões do "ô abre alas, que eu quero passar". Assistiu aos desfiles das escolas de samba na Candelária, e numa entrevista quis saber sobre uma tal cantora chamada "Girl" Costa. Depois pegou uma moto com o seu boyfriend e se mandaram tipo Dennis Hopper, Peter Fonda e Jack Nicholson em Easy Rider para a praia de Arembepe, na Bahia, onde dois anos antes as pedras rolaram com as presenças de Mick Jagger e Keith Richards, e uma comunidade hippie vinda de Woodstock tinha um bagulho do bom.
A meteórica passagem de Janis Joplin no Brasil é inesquecível para muitos que tiveram a oportunidade histórica de acompanhá-la. Todos afirmam que a intensidade em tudo que a cantora fazia, entre maços de cigarros e goles de vodca, escondia uma mulher amargurada, que não dava a mínima para dinheiro e salamaleques.
Oito meses depois, em 4 de outubro, quando gravava o álbum Pearl, seu empresário, John Cooke, a encontrou morta em um quarto de hotel, em Los Angeles.
Acima, a cantora no Hotel Copacabana Palace. Foto ©Arquivo Agência O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário