Em 1965 o cineasta francês Claude
Lelouch não estava numa boa com a fraca repercussão de seu quinto filme, ironicamente
intitulado Les grands moments. Assim como os anteriores, o trabalho não teve
público satisfatório, os distribuidores não apostavam naquele jovem de vinte e
poucos anos de sonhos e de filmes irregulares.
Logo após uma projeção onde tudo
deu errado, Lelouch pegou o carro e saiu a esmo noite a dentro. Rodou cego pela
madrugada e se viu parado à margem da praia em Deauville, uma comuna francesa
na Baixa-Normandia. Cochilou e acordou com o sol e sons de alguns pássaros.
Através do retângulo do painel do automóvel, como uma tela de cinema, viu uma
mulher andando na maré baixa, acompanhada de um menino e um cachorro. A imagem
matinal lhe pareceu cena de filme. O cineasta saiu do carro e tentou se
aproximar da mulher. Enquanto caminhava, perguntava-se e deduzia o que ela
fazia ali tão cedo. Não conseguiu alcançar os três, mas não se importou: voltou
para o carro com a ideia do roteiro de Um homem e uma mulher (Un homme et une
femme).
Estrelado por Jean-Louis
Trintignant e Anouk Aimèe, lançado em 1966, é o seu filme mais conhecido e
emblemático na filmografia que se seguiu por mais quarenta títulos, até o mais
recente, a comédia dramática Salaud, on t'aime, de 2014, com o cantor Johnny
Hallyday no elenco.
Um homem e uma mulher, Palma de
Ouro em Cannes e Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, conta o encontro, romance e
desencontro de dois jovens viúvos. A narrativa em câmera solta, a trajetória de
vidas paralelas de personagens que se cruzam e se perdem, a trilha sonora
organicamente inserida nas ações, e, sobretudo, uma louvação ao amor, marcaram e
definiram o estilo de cinema de Lelouch, reverenciado por muitos, e detratado
por outros muitos, que consideram seus filmes melosos.
Retratos da Vida (Les uns et
les autres), 1981, é considerado sua obra-prima, onde o fôlego narrativo de três
horas intercala vidas distintas de três gerações de famílias na França, Rússia,
Alemanha e Estados Unidos, ligadas pela música e afetadas pela Segunda Guerra.
O clássico de 1966 teve uma
continuação com Um homem e uma mulher: 20 anos depois (Un homme et une femme,
20 ans déjà), com os mesmos atores/personagens, uma espécie de reencontro ao
final da tarde, à margem da praia em Deauville.
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