Foto ©Arquivo Folhapress
No começo da década de 60, o escritor Guimarães Rosa trabalhava no Itamaraty, como diretor do Serviço de Demarcação de Fronteiras.
Entre protocolos bilaterais de países, sinos dos cilindros de máquinas de escrever descendo os papeis e conversas sobre inspeção de marcos, Rosa sentiu aproximar-se um sopro pela sala, uma aragem cordisburguense banhando-lhe os sentidos, um fluido tirando-lhe daquele ambiente e levando-o para outras margens. Não teve dúvida, era uma inspiração, vinha-lhe um conto! Vestiu o paletó, saiu às pressas, desceu e pegou o bonde para casa, nas imediações do Posto Seis, em Copacabana.
Otto Lara Resende em seu livro de crônicas O príncipe e o sabiá (publicado postumamente em 1994, Companhia das Letras, organizado pela escritora Ana Miranda), diz que “durante a viagem, o conto delineou-se e surgiu inteiro, irretocável. Rosa o conduzia com o maior cuidado, para que não fugisse, nem se evaporasse. Levava-o – a imagem é dele – com a cautela de uma criança que leva um balão colorido que pode arrebentar.”
E assim surgiu o belíssimo A terceira margem do rio, incluído em Primeiras estórias, publicado em 1962, seis anos depois de Grande Sertão: Veredas, ambos pela José Olympio Editora. A imagem que Guimarães Rosa deu ao momento de inspiração - a força que tem quando vem para ficar e a fragilidade que tem para ir embora - é de uma beleza impressionante.
Hoje 115 anos de seu nascimento. Rosa é grandioso nas margens, veredas e sertões da literatura brasileira.
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