Foto Jorge Bispo
Versos de Trocando em miúdos, de Chico Buarque, gravada no disco com o seu nome, 1978, uma enviesada rima de combinação de vogal oral com uma nasal na canção para a amada separada.
Musicada por Francis Hime, a composição por pouco não foi liberada pelos censores da ditadura, naquele último ano do governo Geisel, que viram na menção a Pablo Neruda, que pertencia ao Partido Comunista Chileno, uma grave ameaça de subversão. Chico Buarque achou um absurdo, argumentou que não havia perigo nenhum na citação. Era um livro de poesia, "apenas".
Afinal, a letra fala de uma separação amorosa, de uma partilha afetiva-cultural, resolvida ali mesmo na sala, longe do desgaste da Vara de Família. Em comum acordo que ele ficaria com o disco de Pixinguinha, o peito dilacerado estava aceitando sem maiores questionamentos a impressão que já ia tarde, nem bateria o portão fazendo alarde quando saísse, ela ficaria protegida com a medida do Bonfim, que para ele não funcionou.
Em última instância, o compositor explicou que a moça nem sequer leu o livro, até pediu para devolvê-lo. Não se sabe se de fato o exemplar foi restituído ao ex-marido, mas o guardião de plantão do Serviço de Censura, diante da argumentação de Chico Buarque, carimbou a folha e devolveu a letra liberada.
O que ficou decidido entre o casal da música não foi, por outro lado, tão amigavelmente com os censores. Contenda litigiosa mesmo. Chico Buarque precisou de advogado para intermediar o imbróglio.
Hoje 79 anos do compositor que ergueu no patamar da música brasileira quatro paredes mágicas.
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