foto Arquivo Centro Cultural Cartola
Numa tarde de 1975, o ainda hoje desconhecido compositor Nuno Veloso pegou o casal amigo Cartola e Dona Zica para um passeio na Barra da Tijuca e depois fazer uma visita ao violonista Baden Powell. Não o encontraram. Na volta, Nuno passou numa floricultura para Cartola comprar duas mudinhas de roseira que prometera para Dona Zica.
O compositor plantou no quintal “da minha casinha na Mangueira”, como disse uma vez, e que “por tratá-las com todo carinho, florescia rapidamente.”
Dias depois, numa manhã ensolarada, ao abrir a janela para o jardim como sempre fazia, Dona Zica viu Cartola regando as roseiras e espantou-se com tantos belos botões desabrochados.
- Cartola, por que é que nasceu tanta rosa?
O compositor ajeitou os óculos ray-ban, olhou serenamente para as rosas, virou-se para a sua amada e respondeu em tom de brincadeira:
- Ah, eu queria também saber, Zica. Já perguntei a elas, mas em vão. As rosas não falam.
A poética resposta foi a inspiração para o compositor criar uma das mais belas obras do cancioneiro brasileiro. A simplicidade da narrativa do samba-canção tem um impacto emotivo justamente pela singeleza, pelo afago no coração de quem ouve.
Próximo de completar 67 anos de idade no dia 11 de outubro daquele ano, Cartola concluiu a música e, dizem os pesquisadores, se presenteou. Gravou em 1976, no LP Cartola II, produzido pelo escritor e jornalista cearense Juarez Barroso, como bem informa a escritora
Natercia Rocha
em seu primoroso livro Juarez Barroso – O Poeta da Crônica-Canção, lançado em 2018.Dona Zica foi na verdade a inspiração, pois "simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti..."
112 anos de nascimento de Cartola. Volto ao jardim com a certeza que devo cantar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário