sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

a pontuação histórica da Massafeira - 40 anos

A importância da Massafeira Livre se situa na virada de uma década pulsante, 1979-1980, com o país ainda em convulsão político-social, com a entrada do último presidente do período da ditadura militar, João Figueiredo, e o tremular vindouro das bandeiras da abertura política, da anistia, das diretas-já.

Em Fortaleza, eventos sintomáticos registravam um movimento de inquietação, resistência e esperança. O Grupo Siriará de Literatura lançava seu manifesto, reunindo 24 escritores de várias gerações, o Grupo de Teatro GRITA colocava e denunciava nos palcos as vísceras das mazelas que o povo brasileiro vivia naqueles tempos sombrios, e outras vertentes artísticas ocupavam os espaços com suas inovações, propostas e estética de beleza e luta.

A Massafeira, como evento musical idealizado pelo cantor e compositor Ednardo, o jornalista, compositor e publicitário Augusto Pontes (1935-2009), o poeta, artista plástico e arquiteto Antonio Soares Brandão, agregou todos esses gêneros da cena artística cearense naquele momento, a fotografia, as artes plásticas, o cinema, a dança, a literatura, artesanato, durante quatro dias no principal teatro da capital, o José de Alencar. "Som, Imagem, Movimento, Gente", como estampava o cartaz, com seu carneiro ruminante, criado por Brandão.

O fôlego de vários artistas, com seus trabalhos, com suas vozes e emoções, cristalizou-se naqueles dias 15 a 18 das águas de março, numa grande festa de interação. Imprimiu um painel variado e amplo de uma nova geração da cultura cearense.

As comemorações de 40 anos começaram dia 4 e terminam hoje, no Theatro José de Alencar. Massafeirenses históricos estarão no palco: Ednardo, Rodger Rogério, Mona Gadelha, Ângela Linhares, Rogério Soares, Régis Soares, Calé Alencar e Chico Pio.

Nesses dias de celebração, foram homenageados Belchior (1946-2017) e Patativa do Assaré (1909-2002). Na apresentação de hoje serão lembrados mais dois nomes importantes que já partiram para os cearás: o compositor Petrúcio Maia (1947-1994) e Augusto Ponte. Incluo nos meus aplausos o cantor e compositor Stelio Vale (1950-2008).

Nesses tempos sombrios, façamos arte de peito aberto. Os canalhas que atravancam nosso caminho nos querem mudos e amedrontados. Mas nós, na contramão da estupidez institucionalizada, contamos a vida e cantamos histórias. A alegria é revolucionária!


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