"Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo."
Bilhete encontrado no bolso de Assis Valente, após sua morte, na quinta tentativa de suicídio, em 1958, no Rio de Janeiro. O compositor baiano estava afundado em dívidas, não recebia os direitos autorais de seus sambas, muitos deles gravados por Orlando Silva, Altamiro Carrilho, Elvira Pagã, Carmem Miranda, por quem nutria grande paixão, e se sentiu por ela menosprezado ao recusar o samba-exaltação Brasil pandeiro. "Assis, isso não presta. Você ficou borocoxô”, teria tido a cantora dos balangandãs.
A composição foi gravada tardiamente pelo conjunto vocal e instrumental Anjos do Inferno, nos anos 40, fez sucesso, e ficou conhecida pelas novas gerações com a gravação dos Novos Baianos, em 1972, no ótimo disco Acabou chorare: "Brasil, esquentai vossos pandeiros / iluminai os terreiros / que nós queremos sambar”.
As anteriores tentativas de suicídio de Assis Valente seriam cômicas se não fossem trágicas. Na primeira vez, após uma tensa sessão de cobrança da cantora Elvira Pagã, cortou os pulsos com um pedaço de lâmina de barbear e desmaia. De uma outra vez, pulou do alto do Corcovado e frondosas árvores ao pé do morro amorteceram a queda.
Resoluto, após a uma visita inglória ao escritório de direitos autorais para cobrar o que lhe cabia, “vestiu uma camisa listrada e saiu por aí”, como diz sua canção, senta-se em um banco de praça na Praia do Russel, e ingere guaraná com formicida. Tinha apenas 47 anos, muitas dívidas, centenas de composições, uma separação, uma filha adolescente, e muita solidão.
“Eu pensei que todo mundo / fosse filho de Papai Noel...”, uma das mais tradicionais canções natalinas, Boas festas, é de sua autoria. A letra é muito apropriada a sua biografia atribulada, que teve uma pesquisa apurada no livro Quem samba tem alegria, do jornalista Gonçalo Junior, lançado em 2014, onde revela os sérios problemas do compositor com a depressão e dependência química.
Assis pensou que felicidade fosse uma brincadeira de papel.
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