sexta-feira, 15 de junho de 2018

depois da revolução

- Você tem certeza que quer fazer um documentário sobre mim?
- Sim.
- Num filme onde está Che, ele sempre será protagonista.

O diálogo ocorreu entre o cirurgião dentista cubano Dr. Luis Carlos García Gutierrez ‘Fisin’ e a cineasta Margarita Hernandez, também cubana, radicada no Ceará, no primeiro dia de filmagem do documentário Che, memórias de um ano secreto, onde refaz os passos do líder revolucionário em 1965, em plena Guerra Fria, quando desapareceu sem deixar pistas.
Dr. Luis García foi responsável por mascarar o rosto de Che Guevara para despitar os serviços de inteligência em suas missões secretas. Após a guerrilha no Gongo, Che foi transferido para Praga e de lá partindo para a Bolívia. Esse relato e mais outros valiosos testemunhos de sua experiência clandestina em mudar a aparência dos camaradas, estão no livro O outro lado do combate (La outra cara del combate), que o dentista lançou em 2008, ponto de partida para o filme de Margarita.
Realmente, Dr. Luis tinha razão. Nos avanços das pesquisas e na feitura do roteiro, a cineasta definiu seu documentário em um recorte específico na figura política de Che, sem explorar o antes, suas origens, e o que o levou à vitória da revolução em Cuba ao lado de Fidel Castro, e sim, centralizando a narrativa no que lhe aconteceu depois, as suas angústias, as inquietações de um líder carismático que não se acomodava, preocupado em manter sempre acessa a luta, como um paladino, e algumas vezes sem alcançar seus objetivos.
O filme integrou as competições Brasileira e Latina no 23º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, São Paulo, em abril passado. Será exibido no 28º Cine Ceará Festival Ibero-americano de Cinema, Fortaleza, em agosto próximo, como parte das homenagens aos 90 anos de nascimento de Che.
Conheci Dr. Luis García em 2009, durante o 19º Cine Ceará. Tinha 92 anos e de uma lucidez e memória impressionantes. Com muito bom humor nas palestras contou várias de suas histórias com Guevara, cativando a todos. Faleceu em 2015.
Se tivesse assistido ao filme de Margarida Hernandez, veria que a cineasta atendeu ao seu conselho e que mesmo sem ser o protagonista, está ali onipresente, “mascarado” em toda trajetória do ilustre paciente.

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