“Conheci Belchior em São Paulo, no restaurante Carreta. Depois, convidei-o para jantar lá em casa. Aí, violões em punho, passamos a improvisar. Fiquei logo ligado no estilo agressivo dele. Aquela ânsia de dizer tudo, o entusiasmo, a garra de nordestino rural e urbano. Mais entrosados, julguei uma consequência lógica trabalharmos juntos. Éramos complementares um do outro: ele, mais o verbo, a ousadia, a passionalidade. Eu, mais o sossego, o arcabouço musical, o cuidado técnico. Belchior é um cara extremamente profissional, um trabalhador incansável. Meu tempo é bem menos acelerado que o dele. Encontramos um meio termo, um entrou na personalidade do outro."
“Com Toquinho, retomei, pelo menos nessa primeira experiência, minha vertente nordestina, que é meu lado mais lírico, mais puro. Sozinho seria praticamente impossível fazer essas canções, pois a atualidade de meu trabalho me leva para caminhos bem diferentes. Um trabalho em parceria possibilita mostrar a técnica como letrista e a disponibilidade criativa. Entre nós não havia nada preestabelecido, o trabalho atingiu uma espontaneidade cujo resultado ficou a cara do Toquinho com as minhas letras."
De Toquinho para Belchior. De Belchior para Toquinho.
Os depoimentos estão em Histórias de canções: Toquinho, de João Carlos Pecci e Wagner Homem, páginas 159/160, Editora Leya, 2010, livro que conta como aconteceram as parcerias do cantor e violonista com dezenas de outros compositores.
Com Belchior, Toquinho fez seis canções, todas gravadas no LP de 1978, que tem no subtítulo o nome da faixa que ficou mais conhecida, Toquinho cantando - Pequeno perfil de um cidadão comum, ainda mais célebre pela interpretação do cantor cearense em seu quinto disco, "Era uma vez um homem e seu tempo", 1979.
Há um ano e dois meses hoje que "o anjo do Senhor (de quem nos fala o Livro Santo) / desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto / e a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto..."
Mas há quatorze meses que Belchior não morreu.
Na foto acima, Belchior no show de lançamento do disco de Toquinho, São Paulo, 1979