Tenho
uma dificuldade enorme de escrever poemas dedicados à pessoas,
locais, acontecimentos, datas - que dirá "poemas encomendados"... É o que diz o Drummond, em seu claríssimo "Procura da poesia".
Às vezes me descuido e cometo alguns versos em devotamento, em
consagração. Na verdade, me desculpo justificando o afeto em que se
encerra às pessoas queridas.
Hoje é aniversário do poeta Manoel de Barros, 95 anos. Assim como
Drumond, Bandeira, Gullar, Pessoa, Whitman, Régio, Cecília, Quintana... devo
muito a ele, pela poesia que me invade a vida. Esse poeta, nascido à
beira do rio Corumbá, sabe como pouquíssimos reinventar as palavras, dar
significado tão profundo às insignificâncias do dia a dia. Seus livros
devem estar sempre ali, ao alcance da mão, para uma releitura, como
primeiros socorros quando nos perdemos em devaneios desnecessários no
nosso cotidiano.
O cineasta Pedro Cezar fez um belíssimo
documentário, "Só dez por cento é mentira", lançado ano passado, onde
encontramos uma espécie de "biografia inventada" do poeta matogrossense.
O "inventada" é mais uma das saudáveis brincadeiras do poeta com as
palavras. O filme é narrado com depoimentos de leitores, familiares,
leitura de poemas, e conversas do próprio poeta, o que nos deixa mais
cativados pela grandeza em sua simplicidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário