quinta-feira, 30 de outubro de 2025

o nosso estrangeiro



O antropólogo e etnólogo belga-francês Claude Lévi-Strauss, aquele que "detestou a Baía de Guanabara: pareceu-lhe uma boca banguela", como lembrava Caetano Veloso na música O estrangeiro, no disco homônimo de 1989, foi um grande pesquisador e entusiasta da história brasileira.
A citação do compositor baiano teve inspiração no livro Tristes trópicos, clássico lançado em 1955, um ensaio etnográfico romanceado, onde estão as bases do estruturalismo e da antropologia moderna.
Em uma entrevista ao jornal O Globo em 2009, Caetano diz que “Lévi-Strauss pediu desculpas por discordar de todos que acham o Rio bonito e declara que, para ele, a cidade não tem nenhum encanto e as proporções entre a baía e as rochas que a circundam (Pão de Açúcar, Corcovado, Urca e pedras menores) dão a impressão de uma boca desdentada: os promontórios seriam muito pequenos para o tamanho da baía”.
A obra de 500 páginas é um tratado sobre o processo civilizatório, um extraordinário relato com sinceras reflexões sobre a viagem que fizera ao Brasil nos anos 1930. Lévi-Strauss conviveu com os índios bororo, nambiquaras e cadiuéus nas matas amazônicas, observando os mitos e rituais, o que lhe deu a certeza de que não se tratavam de selvagens, e sim donos de uma lógica complexa e sofisticadas estruturas sociais, fazendo uma análise comparativa das religiões do velho e do novo mundo. Também fotografou muito o dia a dia da nossa realidade, os costumes, as cidades e seu povo.
Claude Lévi-Strauss faleceu a poucas semanas de completar 101 anos, na madrugada de 30 de outubro de 2009, em Paris.
Acima, o antropólogo em seu escritório em São Paulo, 1935. Foto: Acervo Biblioteca Nelson Foot, Jundiaí, SP.

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