segunda-feira, 13 de outubro de 2025

a moça que passa


Foto Acervo IMS

O carioca de ascendência francesa Marc Ferrez (1843-1923), foi um completo cronista visual das paisagens e dos costumes da segunda metade do século XIX e do início do século XX.
Não somente o Rio, todas as regiões do Brasil fazem parte da sua valiosa obra iconográfica. Construção de ferrovias e tuneis, movimentos de rebelião no início do governo republicano, escavações de minas. Foi o primeiro a fotografar os índios botocudos no sul da Bahia.
Mas a graça da moça que passa de minissaia na Avenida Rio Branco, em 1910, é de um lirismo transgressor encantador.
Sempre que vejo essa foto, e a tenho em um ponto inevitável na minha estante, remeto-me a uma passagem de O amanuense Belmiro, romance de Cyro dos Anjos ambientado na Belo Horizonte dos anos 30:
“A vida não se conforma com o vazio, e a imagem da moça encheu-me os dias”.
Entre panorama urbano carioca e a provinciana capital mineira, entre a reflexão do amanuense em seu diário e o flagrante do cotidiano de Ferrez, não há necessariamente uma ligação. Apenas minha particular simetria no tempo à procura de encher de dias e significados a semana que começa.

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