Foto: André Arruda, 2013
Na madrugada de 1º de abril de 1964 o telefone tocou na casa do fotojornalista Evandro Teixeira. Era capitão Leno, seu amigo de vôlei de praia, dizendo que o Forte Copacabana, no Rio de Janeiro, estava sendo tomado. O militar era contrário ao golpe que se instalava. Teixeira, que morava nas proximidades, pegou sua Leica M3 e correu para o local. Com ajuda do amigo conseguiu entrar com a máquina escondida na jaqueta. E começou a fotografar a movimentação dos militares debaixo de uma chuva torrencial. Os golpistas não se incomodaram, pensaram que fosse fotógrafo do Exército. Mas Teixeira sentiu que era hora de sair quando chegou o marechal Castello Branco cercado de oficiais.
Dos registros que fez daquele início da página infeliz de nossa história, uma foto se destaca, a de um soldado no Forte, absorto e encharcado, expressando um sentimento de isolamento e melancolia, diametralmente oposto às comemorações da vitória. Eram 5h da manhã. O sol molhado que surgia prenunciava os tempos sombrios que viveríamos nas próximas décadas.
O jovem fotógrafo baiano de Irajuba tinha 29 anos quando ingressou em 1963 no Jornal do Brasil, o que considerou como o ano de arrebatamentos em sua vida profissional. Hesitou no início quando recebeu o convite do editor Dilson Martins. O JB era o mais importante periódico, referência gráfica e na vida política, cultural e econômica do país com suas reportagens e colunas. Foi o primeiro jornal a ter um estúdio fotográfico próprio e a usar as câmeras da fabricante sueca Hasselblad. “O ambiente do JB me transformou no fotógrafo que sou”, disse Evandro Teixeira, em entrevista ao site do Instituto Moreira Sales, em 2010, quando saiu do jornal.
Evandro Teixeira faleceu hoje aos 88 anos. Desde o começo do mês passado estava internado se tratando de complicações decorrentes de uma pneumonia. Nas redes sociais amigos fizeram campanha para doação de sangue. Foi atendido. Um gesto simbólico nesses afluentes de afeto e gratidão na corrente sanguínea do grande fotógrafo.
“A pessoa, o lugar, o objeto / estão expostos e escondidos / ao mesmo tempo sob a luz, / e dois olhos não são bastantes / para captar o que se oculta / no rápido florir de um gesto” // É preciso que a lente mágica / enriqueça a visão humana / e do real de cada coisa”, disse Carlos Drummond de Andrade no poema a ele dedicado, Diante das fotos de Evandro Teixeira, publicado em Amar se aprende amando, 1986.
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