segunda-feira, 25 de novembro de 2024

a elegância do escritor


O primo Basílio, quarto livro de Eça de Queiroz, 1878, é um clássico romance sobre o adultério e a condição feminina, um exemplar do realismo da literatura portuguesa.
O escritor que já abalara três anos antes a moralidade da Igreja Católica no polêmico O crime do padre Amaro, dessa vez dirige seus dardos certeiros para as mazelas da família burguesa urbana, com uma análise ferrenha, focando com grande elegância literária, mas sem comedimentos na representação, os ridículos de uma classe média alta e proporcionalmente dissimulada. O personagem-título é uma espécie de dândi cínico e pedante, que mantém o estilo de vida aristocrático, mas decadente.
A precisão cirúrgica com que o escritor disseca os costumes, absurdos e contradições dos personagens da sociedade lisboeta, revela que o universo mesquinho e protótipo de futilidade reverbera-se muito além da geografia e do tempo. Nunca um romance teve seus aplicativos tão atualizados ao olharmos em volta o mundo em que vivemos, ladeira abaixo de hipocrisias.
Em 1873, durante uma viagem ao Canadá, Eça de Queiroz visita o estúdio do famoso fotógrafo William Notman, em Toronto, e faz uma de suas pouco conhecidas fotos, que ilustra abaixo esta postagem. Tinha 28 anos de talento e elegância.
Hoje, 179 anos de nascimento do escritor.

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