Em O sétimo selo (Det sjunde inseglet), Ingmar Bergman questiona a existência de Deus e reflete o temor de que o mundo possa acabar de repente ou de que seja dizimado gradualmente por uma peste. Rodado em 1957, o cineasta baseou-se na peça teatral de sua autoria. "Foi o primeiro passo em minha luta contra o horror que sentia da morte", disse em Imagens, livro de fotobiografia, 1996.
Bergman usa o recurso narrativo como alegoria da racionalidade para entender o sentido da vida. Não se apega propriamente a uma determinada religião, e coloca a Igreja como uma instituição decadente, incapaz de impedir o mal e solidificar a fé.
O cavaleiro é vivido por Max Von Sydow, ator frequente na filmografia bergmaniana. A Morte, na interpretação marcante e assustadora de Bengt Ekerot, que, curiosamente teve uma carreira curta, falecendo aos 51 anos.
A emblemática cena dos dois personagens separados e unidos pelo tabuleiro de xadrez concretiza os aspectos da credulidade questionada. O cineasta inspirou-se no quadro Victoria mortis, de 1921, para compor a mais forte e pronominal sequência do filme. Pintada pelo também sueco Owe Zerge (1894-1983), a obra retrata a batalha do homem contra a mortalidade, a brevidade da vida na figura de um jovem desnudo, concentrado e angustiado diante do opositor que, pacientemente, sabe e aguarda sua vitória inevitável. A vulnerabilidade do tempo finito escorrendo na ampulheta, em que cada movimento simboliza decisões, ações e consequências.
Filme e pintura, que resistem e continuam, enunciam o aforismo do arquiteto e médico grego Hipócrates, popularizado pelo poeta romano Sêneca: “Breve é a vida, longa é a arte”.
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