sexta-feira, 1 de novembro de 2024

mouros e tempestade no palácio


Hoje, há exatos 420 anos, a peça Othello, o mouro de Veneza, de William Shakespeare, foi encenada pela primeira em uma das 1500 salas do Palácio de Whitehall, residência dos Reis da Inglaterra, em Londres, entre 1530 e 1698.
Das duas adaptações para o cinema, a que mais me impacta e revejo é Othello, dirigida por Orson Welles, lançada em 1952. A outra transposição é de 1995, produção britânica-estadunidense, de Oliver Parker, com Laurence Fishburne no papel central.
Na primeira, insuperável, Welles, também nas frentes das câmeras, interpreta o general Othello. Foi uma das mais complicadas produções do polêmico e genial cineasta. Shakespeariano até a medula, Welles dissecou o texto com intensidade, e um surpreendente fôlego que exigia também de toda equipe, para imprimir na tela as tramas de racismo, amor, ciúme e traição da obra do bardo inglês.
Recusado pelos produtores de Hollywood, o cineasta recorreu aos europeus e passou três difíceis anos filmando em locações em Marrocos, de 1949 a 1952, e investiu grana do próprio bolso quando o financiamento acabou.
Todo sacrifício foi compensado com o Palma de Ouro em Cannes e a grande repercussão nos cinemas da Europa. Estados Unidos desdenhou. Welles sempre foi um maldito para eles.
Uma curiosidade de datas: no mesmo dia 1º de novembro, sete anos depois da apresentação de Othello, nas mesmas dependências reais estreou A tempestade, que Shakespeare escreveu em 1610.
A tragédia tem uma das mais belas afirmações sobre o universo da mente humana, que serviu mais tarde para estudo e aprofundamento na psicanálise sobre aspectos do inconsciente, do que somos e nos define enquanto não estamos acordados.
Próspero, o duque de Milão, que articula colocar a sua filha Miranda de volta ao poder, utilizando-se de ilusão e manipulação, diz: “Somos da mesma substância que os sonhos”, ou em outras traduções, "Nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos."
Toda obra de Shakespeare é atemporal, atualíssima.
Acima, Othello ao lado de sua esposa Desdêmona, interpretada por Suzanne Cloutier. 

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