Em 1940 o escritor, ensaísta e dramaturgo Oswald de Andrade apresenta sua candidatura à Academia Brasileira de Letras. Quinze anos antes tentou e não conseguiu. E dessa vez a intenção vinha caracterizada por polêmicas, pois o modernista acusava frontalmente a instituição de antidemocrática. Definia sua postulação como um desafio à ordem e necessidade de renovação. Um “paraquedista que se lança sobre uma formação inimiga, cujo destino único é ‘ser estraçalhado’”, escreveu em um dos seus artigos para a seção Telefonema do jornal carioca Correio da Manhã.
Provocador, intempestivo, anárquico, Oswald enviou junto com a inscrição uma carta ao presidente da Academia, Celso Vieira, onde, entre outras afrontas, pergunta se “será V.S. um dos membros da quinta-coluna, que camuflados no fardão, sabotam aí dentro, as magras conquistas do espírito brasileiro? ”. E para fazer alarde, manda o texto para os jornais, anexando uma fotografia ao lado de uma mulher segurando uma máscara contra gazes asfixiantes, que usou na França um ano antes, durante o ataque nazista. O que se entende como ilustração de uma outra parte da carta: “Passará pela cabeça de V.S. alertada pelos bombardeios contemporâneos, que o fim dos quarentas imortais que nas últimas décadas adormecem o espírito francês ‘sous la coupole’, pode ser um campo de concentração? Ou será V. S. daquelas teimosas velhas de Botafogo que ainda acreditam no pavoneio dos títulos literários, roubados aos verdadeiros trabalhadores da cultura?”.
“Pavoneio dos títulos literários” é ótimo! Muito adequado à proliferação dos saraus de hoje em dia e suas performances de lacração.
Ao final, no resultado da eleição, Oswald de Andrade perdeu para Manuel Bandeira, concorrente da “formação inimiga”, composta também, entre outros, por Menotti del Picchia, que desistiu da candidatura em favor ao poeta pernambucano. Oswald teve apenas um voto, de Cassiano Ricardo, autor do consagrado Martim Cererê.
A Semana de Arte Moderna de 1922, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil, o Manifesto Antropófago, o Modernismo no Brasil, a transgressão, ousadia e inovação, tudo é sinônimo do imenso Oswald de Andrade.
Hoje, 70 anos que ele partiu para outras semanas.
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Foto: Oswald de Andrade em 1920, Acervo Marília de Andrade. Intervenção cromática de Andrea Vilela de Almeida, para a capa da segunda edição de Oswald de Andrade – Biografia, de Maria Augusta Fonseca, Editora Globo, 2007.
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