domingo, 20 de outubro de 2024

cartas de um jovem poeta

 

Em 24 de maio de 1870, Arthur Rimbaud, aos 16 anos de idade, escreve uma carta a Théodore de Banville, líder do movimento parnasiano, autor de muitas das críticas literárias do seu tempo e influência nos simbolistas. Banville tinha 31 anos, publicara oito anos antes seu terceiro livro de poemas, Les Stalactites, e o adolescente Rimbaud o tinha como mestre.
A carta acompanhava três poemas, Sensation, Ophélie e Credo in Unam, e Rimbaud esperava que Banville os publicasse na edição da série Parnasse Contemporain que preparava.
Alguns trechos de uma missiva admirável pela elegância e reverência:
“Caro Mestre, estamos no mês do amor, tenho 17 anos”.
(Rimbaud só completaria essa idade em 20 de outubro daquele ano, portanto, a mentira de alguns meses é uma “licença poética” que aceito de bom grado).
“A idade das esperanças e das quimeras, como se diz – e eis que me pus a cantar, criança tocada pelo dedo da Musa -, perdão se isto é banal – as minhas crenças mais puras, minhas esperanças, minhas sensações, todas essas coisas de poetas -, que eu chamo de primavera... Dentro de dois anos, de um ano talvez, estarei em Paris”.
(Estava em sua cidade natal, Charleville, a 200 quilômetros da capital).
"– Anch’io, senhores jornalistas, serei parnasiano! – Não sei o que tenho dentro de mim... que quer subir à tona... – Eu vos afianço, caro Mestre, que sempre adorarei as duas deusas, a Musa e a Liberdade.”
Essa e mais dezenas de cartas estão na íntegra no livro “A correspondência de Arthur Rimbaud, lançado pela L&PM Editores Ltda em 1983, com seleção do fundador da empresa, Ivan Gomes Pinheiro Machado, e tradução do jornalista, ator e diretor de teatro, o capixaba-brasiliense Alexandre Ribondi (1943-2023).
Nesses escritos epistolares adentramos nas mais íntimas inquietações de Rimbaud, de tal forma que os hipérbatos, as anástrofes, as sínquises, todas essas normas de retórica e estilística gramaticais dos versos, na dificuldade e sutileza da tradução, desenham a personalidade complexa e carismática do imberbe poeta.
Hoje, 170 anos de seu nascimento.
Acima, arte urbana com a imagem do poeta, de Ernest Pignon, Paris, 1978.

Nenhum comentário: