sábado, 8 de abril de 2023

perdoa-me por me traíres


Judas quer compreender a mensagem de Cristo, e acha que os irmãos apóstolos estão seguindo sem questionar as palavras do Mestre. Judas discute com eles, defende o seu direito de adivinhar a verdade de Deus.
Essa versão enviesada e curiosa do apóstolo que virou, ao longo da história cristã, sinônimo da deslealdade e da postura pérfida, é apresentada no filme russo Judas, de Andrey Bogatyrev, 2013, e, exibido no Brasil na mostra Semana de Filmes Russos em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (no Espaço Itaú de Cinema).
Adaptado do livro Judas Iscariotes, de Leonid Andreev, falecido em 1919 aos 48 anos, o filme desenvolve a tese de que não se trata de crime intencional, nem de culpa, mas de um desígnio obscuro que parece reger a vida de certos homens contra a vontade deles, contra a razão, contra a salvação. Judas é apresentado, na reviravolta dessa versão, como um personagem argumentativo, desafiando continuamente os discípulos quanto a sua compreensão pessoal da mensagem de Jesus - e da natureza divina. Em essência, o filme pergunta se o martírio forçado de Cristo por Judas não pavimentou o caminho para seus ensinamentos se enraizarem mais.
Na síntese dessas controversas interpretações, Judas, que era o discípulo favorito de Jesus, teria agido a pedido do Mestre, mesmo sabendo que depois seria perseguido por causa de seu ato. “Afasta-te dos outros e contar-te-ei os mistérios do reino. Irás alcançá-los, mas sofrerás muito”, teria alertado Jesus. Cumprida sua missão, Judas não teria se enforcado, como registram os evangelhos canônicos, mas se retirado para meditar no deserto. 

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