sexta-feira, 7 de abril de 2023

Jesus de Montreal


Um grupo de atores encena pelas ruas da grande Montreal, de forma nada convencional, uma versão teatral de A Paixão de Cristo.
Para complicar, a via-crúcis de Jesus se confunde com as dificuldades de cada um do elenco, principalmente para o jovem ator (Lothaire Bluteau, em duplo papel) a quem pegaram para Cristo.
Jesus de Montreal (Jésus de Montréal), de Denys Arcand, produção canadense, 1989, tem um dos mais originais argumentos que abordam o martírio de Cristo em direção à cruz. Com roteiro do próprio diretor, a narrativa de metalinguagem da peça dentro do filme faz um paralelo de cada acontecimento da história com o cotidiano dos artistas, dando uma simétrica e curiosa interpretação bíblica para os mortais.
Desenvolvendo outro viés, mas no mesmo desempenho de ousadia e criatividade, Arcand faz o que Pier Paolo Pasolini elaborou em O evangelho segundo São Mateus (Il vangelo secondo Matteo), 1964, a decodificação precisa, social e política do tema, ao contrário de todo tipo de leitura das produções que mitificam e edulcoram a "maior história de todos os tempos", aqui lembrando o título do clássico hollywoodiano dirigido por George Stevens em 1965.
Denys Arcand (O declínio do império americano, As invasões bárbaras, Amor e restos humanos) realiza um cinema que desconstrói mitos e conceitos estabelecidos, questionando e contestando o sentido de nossas inquietações.
No enredo de Jesus de Montreal, a peça não é vista com bons olhos pela Igreja. Fora do filme também.

Nenhum comentário: