sexta-feira, 30 de abril de 2021

eu não estou interessado em nenhuma 'tiuria' - o novo sempre vem


“Eu acho que a gente precisa abrir novamente a discursão sobre música brasileira, sabe? É preciso voltar novamente a polemizar sobre música brasileira. Muita coisa tá acontecendo na música popular brasileira. Está acontecendo e as pessoas não estão vendo, não estão dizendo, não ‘tão querendo, mas tá acontecendo muita coisa. E é preciso que os meios de comunicação, os críticos, as pessoas, tomem um conhecimento mais preciso disso. E... os compositores novos, estão todos abertos à polêmica, estão todos abertos à discursão. (...) Então, eu tô interessado numa linguagem nova dentro da música popular brasileira. Novas palavras, novos signos, novos símbolos.”

- Trecho da entrevista com Belchior, aos 28 anos, transcrito do programa MPB Especial, TV Tupi de São Paulo, 2 de outubro de 1974, direção de Fernando Faro.
Naquele ano o cantor acabara de lançar o seu primeiro LP, pela Chantecler, que ficou conhecido como Mote e closa. O seu discurso poético-musical proposto nesse disco seminal se concretiza mais fortemente no álbum Alucinação, de 1976, pela PolyGram, através do selo Philips.
A faixa-título é praticamente um manifesto de toda obra de Belchior, composta de doze discos autorais, do citado de 1974 a Bahiuno, de 1993. E até acrescento, tranquilamente, seu último disco de estúdio, Vício elegante, 1996, onde, exceto a faixa-título, em parceria com
Ricardo Bacelar
, e o tradicional cântico católico Panis Angelicus, as demais onze canções, de Almanaque, de Chico Buarque, a Aparências, composição de Ed Wilson e Cury Heluy, sucesso na voz de Marcio Greyck na década de 80, apresentam o Belchior intérprete de letras que ele poderia ter escrito.
Sobre a composição Aluinação", o Porto Iracema das Artes, escola de formação e criação ligada à Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, apresenta hoje o projeto Anatomia da Canção. Sob mediação da cantora e compositora
Mona Gadelha
, coordenadora do Laboratório de Música, a transmissão será pelo canal da escola no YouTube, às 17h30.
Junto com a jornalista e pesquisadora Josy Teixeira, e o escritor e músico
Leo Mackellene
, estaremos comentando as novas palavras, os novos signos, os novos símbolos que Belchior trouxe para a música brasileira.
Quatro anos hoje daquela madrugada de domingo quando Belchior ficou encantado com uma nova invenção e partiu, depois de “há tempo muito tempo longe de casa”, a léguas tiranas das margens do rio Acaraú que corta sua aldeia, nessas ilhas cheias de distância em Santa Cruz do Sul nos pampas gaúchos.
Toca Belchior!

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