domingo, 4 de abril de 2021

a ressurreição de uma obra


Na fé cristã, a Páscoa é a comemoração do fundamento e da crença que Jesus morreu e ressuscitou no terceiro dia.

A Igreja Católica, lá nos primórdios, preocupada em tornar o Cristianismo mais atraente para os ditos não-cristãos, misturou a ressurreição de Jesus com rituais de fertilidade que ocorriam na primavera, e ovos e coelhos simbolizam a fecundidade, multiplicação, abundância.
A reprodução abaixo é da belíssima obra do pintor renascentista Rafael Sanzio, Ressurreição de Cristo, criada na passagem de um século para outro, entre 1499 e 1502, no nascimento de um novo tempo.
É curioso como na grandiosidade de uma peça estejam marcados em suas cores, o símbolo, a história e significados de transformação, de mudança, de renascimento.
Um terremoto na cidade Tolentino, Itália, por volta do final do século 18, atingiu a Basílica de São Nicolau, onde estava o quadro, por detrás do altar. Foi recuperado, renascido, elevado aos céus para a humanidade. A obra ressuscitada.
Em 1947, o historiador e colecionador Pietro Maria Bardi criou, junto com o jornalista Assis Chateaubriand, o Museu de Arte Moderna de São Paulo. Bardi, que nasceu na mudança de um século, 1900, e faleceu na passagem de outro, 1999 – mais uma vez, o renascimento - foi diretor da instituição por dedicados 45 anos. Em 1954 adquiriu, através de leilão, o quadro de Rafael Sanzio para o Museu.
O belo e magnetizante óleo sobre madeira, de pouco mais de 50 cm de dimensão, exposto em cavalete de cristal, é a única obra do pintor italiano não somente no Brasil, mas em todo o hemisfério sul. Outra vez renascida em nova casa.
Rafael Sanzio nasceu em um 6 de abril, e na simetria e renascimento do tempo, faleceu também em um 6 de abril, de 1520, aos 37 anos. Cinco séculos e um ano este mês de sua passagem.
Neste domingo de Páscoa são 2.844.807 mortes por Covid-19 ao redor do planeta. No Brasil, na página infeliz de nossa história, desgovernado por uma alma sebosa negacionista e genocida, 330.193 famílias enlutadas, chorando seus parentes, amigos e vizinhos que não voltam mais.
Ressurreição de Cristo de Rafael reflete mudança, renascimento, transcurso no tempo e no espaço. O quadro está ali na parede do Museu na capital paulista, aguardando a mudança do tempo para visitas e contemplação da beleza. E continuemos em casa, cuidando de si e dos outros. Que a fertilidade da fé ilumine multiplique a sabedoria da ciência na cabeça dos homens. Renasceremos desse caos.

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