Otto Lara Resende em uma crônica sobre Manuel Bandeira, de 1976, publicada no livro póstumo O príncipe e o sabiá, 1994.
O poeta pernambucano foi da geração de 1922 do Modernismo, mas teve desavenças com Oswald de Andrade. Recusou-se a assinar o Manifesto da Poesia Pau-Brasil e chegou a escrever um artigo detonando. Oswald, notório piadista, arriscava perder um amigo, mas não a oportunidade de uma brincadeira. E no embate entre os gênios, teria dito que “um poeta é sempre bem-vindo, e mais bem-vindo se é Manuel, Bandeira do Brasil”. Chiste ou não, já saudara com distinção o que Lara Resende escreveu com louvor em sua crônica.
Bandeira tinha 82 anos quando faleceu em 1968, dezesseis anos depois que escreveu Consoada, um poema que é todo corpo-narrativo eufemístico sobre a morte. O mais longe que vai é denominá-la maiusculamente de “a Indesejada”. Manteve a reverência pessoal na pronúncia da recusa humana, pois sabe-se lá como é do outro lado. O eu-lírico aceita os sortilégios da dita cuja, e sereno a trata como uma refeição leve, natalina, como define o título. Mas “a iniludível”, por ser pontual sem data marcada, veio-lhe dura, abatendo-lhe com uma hemorragia gástrica. Mesmo assim, não teve medo, o poeta sorriu uma carinhosa e consoante evocação, “o meu dia foi bom, pode a noite descer”.
135 anos hoje de nascimento do poeta que coroou a literatura brasileira com o itinerário rumo à Pasárgada. Mais longe, mais livre.
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