quinta-feira, 16 de novembro de 2017

a última desesperança da Terra

Planeta dos macacos (Planet of the apes), de Franklin J. Schaffer, 1968, clássico filme de ficção científica, conta a história de uma tripulação espacial que depois de muito tempo hibernada na nave, pousa em um planeta parecido com a Terra, dominado por uma civilização de macacos, já no adiantado e inimaginável ano 3900. Como creio que todos conhecem o filme, não é spoiler dizer que o planeta é a própria Terra, sem vestígios de seres humanos, e numa curiosa inversão, tem os símios como seres inteligentes, poderosos, e, como nada é perfeito, bélicos.
Charlton Heston interpreta o astronauta George Taylor, sobrevivente que enfrenta a raça dos macacos falantes em busca de respostas para aquilo tudo. O ator, que já tinha sido “salvador da humanidade” como Moisés em Os dez mandamentos, o lendário herói espanhol em El Cid, o judeu libertário em Ben Hur, e em muitos outros filmes, como A última esperança da Terra, não foi à toa que a Century Fox o escalou para mais um papel de Messias-reloaded.
Depois de muito embate com os macacos, Taylor em uma fuga que extasiava a plateia, em desesperado galope à beira-mar dá de cara com a Estátua da Liberdade, afundada parcialmente na areia, a tocha apagada em suspiro final. Uma das imagens mais impactantes da história do cinema.
O personagem ajoelha-se e sucumbe à dor. A cena resume toda a certeza que a humanidade estava ali disseminada, coagulada na mais grave desesperança. O que Hollywood, como fábrica mágica de sonhos e pesadelos, explicitou em inúmeras sequências de destruição de alguns filmes interessantes e muitos outros desprezíveis, “elipsou” nesse o apocalipse em uma cena extremamente simbólica, não somente por sabermos da cidade de Nova Iorque acabada e sumida do mapa, mas de toda a população da Terra literalmente enterrada com a estátua presenteada pela França, e, sobretudo, um certificado anti-Guerra Fria. Não por coincidência o filme é baseado no romance La planète des singes, do francês Pierre Boulle, 1963.
A sequência final de “Planeta dos macacos”, como promove e vaticina o cinema americano, lembra que o planeta explode diariamente em meio à paz que ainda regamos no front de cada dia.
Possivelmente um dos primeiros filmes que retrata uma crítica social por meio de distopia.

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