Antes de ontem fui ao velório de Jota Pingo,
no Espaço Cultural 508 Sul, aqui em Brasília. Não, não parecia um
velório. Já estava sendo anunciado como velórock, algo assim. Amigos,
malucos belezas, bebidas, caldo de gengibre, poemas declamados... Um
happening... tanto que ao chegar nem percebi o caixão com o corpo no
meio do salão... Todos conversavam como se o amigo morto estivesse ali
fingindo-se, com o pulso ainda pulsando, com sua bela loucura, seu delírio tão necessário pra espantar a caretice deste mundo.
É uma cerimônia diferente para nós acostumados ao longo dos séculos com o ritual doloroso da despedida. Eu, que sou nordestino, por lá a dramaturgia funébre é mais heavy, pesada mesmo, ou foi, já não é tanto. Cresci vendo as mais trágicas liturgias dos parentes diante do caixão de seus entes. As crianças eram obrigadas a beijar a testa fria do falecido, os adultos se jogavam por cima ataúde, bradando "por que? por que? por que?".
Ao sair do adeus ao Jota Pingo, saí sem sentir que saí de um velório. Como ele queria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário