Acho essa capa horrível, Caetano tá feio com essa moita e essa
barbicha. Mas tem o olhar atlântico, distante, e o disco é belíssimo.
Tenho o bolachão, de 1971. É o terceiro álbum do baiano, gravado em Londres, e as músicas refletem bem o estado de espírito de um exilado naquela cidade cinza, longe de sua Bahia, de um Brasil dominado por uma ditadura militar, enfiando goela abaixo no povo um país tricampeão de futebol para abafar os gemidos no porão. Nada estava tão divino e maravilhoso.
Tenho o bolachão, de 1971. É o terceiro álbum do baiano, gravado em Londres, e as músicas refletem bem o estado de espírito de um exilado naquela cidade cinza, longe de sua Bahia, de um Brasil dominado por uma ditadura militar, enfiando goela abaixo no povo um país tricampeão de futebol para abafar os gemidos no porão. Nada estava tão divino e maravilhoso.
As letras do disco são tristes,
melancólicas, cheias de espanto e saudade. E de uma beleza poética e
melódica singulares. "London, London", a faixa mais conhecida, traduz
bem o espírito de um artista saudoso. Caetano descreve, ou descreve-se,
em um passeio pelas ruas da capital inglesa, "I'm wandering round and
round, nowhere to go", vagando, dando voltas sem direção, sem ninguém
pra dizer olá, "I know I know no one here to say hello", e a vontade de
voltar pra sua terra faz com que imagine discos voadores que o levassem
de volta, "while my eyes go looking for flying saucers in the sky". A
sua versão tão interiorizada de "Asa branca", dos mestres Gonzagão e
Humberto Teixeira, tem a mesma expressão dessa saudade de todos seus
santos amaros, da risada de Irene, do abraço de Bethânia, do colo de
Dona Canô.
Ave, Caetano.
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