O testamento de Dr. Mabuse, de Fritz Lang, 1932
Um amigo disse-me que não vê filmes no computador. No máximo, em dvd. Eu vejo. Não é
uma rima, mas é uma solução. Há uma semana estou revendo a filmografia
de Fritz Lang; antes fiz o mesmo com a de Yasujiro Ozu, depois passo
pra Tarkovski. Revisitando o Cinema. Não há a mais
remota possibilidade de assistir a esses filmes no circuito comercial.
Provavelmente - e olhe lá! - em alguma mostra promovida por embaixadas,
pelo menos seria assim aqui em Brasília.
Claro que seria bem
melhor ver o bom cinema nos telões das grandes salas. Mas onde estão
essas salas? Nos multiplexes? A "assepsia" dessas saletas de shopping começa na frieza da bilheteria, que separa o funcionário do espectador por um espesso vidro e "comunica-se" por um microfone high tech.
Não há calor humano nem nesse momento. E se o filme em cartaz for um 3D
a sua "aproximação" com os personagens é uma grande mentira, enganação.
O tridimensional entra pelo primeiro coração através de uma boa
história, um bom roteiro, uma boa direção, e elenco de atores, não de
astros.
Não troco duas horas de um avatar por um
plano silencioso de Tarkovski, uma câmera-tadame de Ozu, um ângulo
expressionista de Lang, uma sequência humanista de De Sica, um take
onírico de Fellini, uma câmera delirante de Glauber, um duelo ao por do
sol de Sergio Leone, um susto de Hitchcock, uma parábola segundo Pasolini, uma verdade-mentira de
Orson Welles, um Monument Valley de John Ford, um samurai de
Kurosawa, um contra-plano de Antonioni, uma dissecação n'alma de
Bergman, um caso de amor de Truffaut... mesmo na telinha no meu
computador, chupando drops de anis...
2 comentários:
Além do mais, temos que correr contra o tempo, antes que sejamos forçados a sair da frente da tela, antes do filme acabar...
Muito instigante o texto!
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