O escritor e cineasta Rosemberg Cariry é uma de minhas referências na cultura brasileira. Com seu pensamento de admirável lucidez crítica, sempre conversamos trocando ideias e aumentando os insumos de resistência, como cidadãos e artistas.
Na literatura, criamos, com mais 22 poetas, contistas, romancistas e sonhadores, o Grupo Siriará de Literatura, em Fortaleza, no ano em que ainda vivíamos em perigo, 1979, com o país em convulsão político-social, com a entrada do último presidente do período da ditadura militar, João Figueiredo, e o tremular das bandeiras da abertura política, da anistia, das Diretas Já.
No cinema, fundamos a Associação Brasileira de Documentaristas, seção Ceará, realizamos filmes em Super-8, 16 e 35mm, U-Matic, VHS, o que desse para imprimir a ideia na mão, fazer a hora e acontecer. Fui seu fotógrafo de cena e assistente de direção em curtas, médias e longas-metragens. E ele apoiando sempre em meus filmes e livros.
Em 1986 estávamos no 19º Festival de Brasília de Cinema Brasileiro. Na foto acima, um flagrante da cineasta Liloye Boubli, no restaurante do Hotel Nacional, sede do evento, eu e a atriz Marcélia Cartaxo olhamos curiosos para algo que chamou a atenção de Rosemberg. E quando se trata de Rosemberg Cariry, é sempre algo interessante na linha do horizonte.
A foto, resgatada neste mormaço vespertino de sábado em que escrevo, ilustra muito bem, na simetria do tempo e da esperança, o seu excelente e oportuno artigo publicado no jornal O Povo do dia 19, quarta-feira.
Eu, Marcélia, e todos de espírito libertário, olhamos na mesma direção, caro Rosemberg. Declaradamente.
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O VOTO DECLARADO
Rosemberg Cariry
Há quem me pergunte sobre motivações para votar, em especial os mais jovens. Costumo falar de mim para que não lhes pareça doutrinação. Digo, em primeiro lugar, que sou um ser humano e respeito em profundidade a dignidade e integridade do meu semelhante, bem como os direitos que fundamentam a justiça e a solidariedade entre todos nós. Que voto contra a tortura, a violência, a miséria, a fome, a exclusão social e as desigualdades.
Que habito o planeta Terra e acredito que o equilíbrio entre a vida social e econômica deve considerar a natureza que nos cerca. Que sou contra os destruidores de floresta, os plantadores de desertos, os madeireiros, os mineradores e garimpeiros que envenenam os rios e dos destruidores das culturas e da vida dos indígenas. Que abomino a necropolítica implantada nesse País por pessoas perversas e despreparadas que semeiam ruínas.
Enfatizo que acredito em Deus e acho justas todas as religiões e os seus diferentes caminhos de busca. Que não aceito fanatismo, o uso da religião para disseminação do preconceito e do ódio.
Ressalto que tenho uma grande admiração e respeito pelas mulheres, reconhecendo o seu valor fundamental na vida, na cultura e na sociedade, sendo contrário aos que insultam as mulheres e lhes cerceiam os direitos, promovendo a misoginia. Que tenho respeito pela diversidade de gêneros e apoio as causas das comunidades LGBTQIA+. Assim, sou contra perseguições, deboches, humilhações, violências e cerceamento da liberdade dessas pessoas. Justifico que sou a favor de cotas para negros, pardos, índios e ciganos (entre outros), como reparação histórica.
Sou pela democracia, pela liberdade, pela educação universal, pela valorização da ciência, das culturas e das artes, pelas organizações sociais populares, pela construção de um mundo novo sem ódio, baseado na solidariedade e na justiça.
Por fim, pontuo que por ser nordestino aprendi desde cedo o valor da liberdade. Sou brasileiro e sei o valor da democracia. Sou cidadão do mundo e sei o valor da vida de todos os povos. Assim, para que não guardem nenhuma dúvida, declaro-lhes que voto em Lula.
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