Foto: Acervo Museu de Literatura Brasileira – Fundação Casa de Rui Barbosa.
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
- Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Manuel Bandeira e seu poema-apóstrofe Consoada, publicado em Opus 10, 1952.
A iniludível desceu com seus sortilégios dezesseis anos depois no começo da tarde de 13 outubro. Veio-lhe dura, com uma hemorragia gástrica, aos 82 anos. Mesmo assim, Bandeira não teve medo, o poeta sorria uma carinhosa e consoante evocação. A Indesejada encontrou o campo lavrado em uma vasta obra com cada coisa em seu lugar, coroada com poesia, prosa e traduções.
Otto Lara Resende em uma crônica sobre Bandeira, de 1976, publicada no livro póstumo “O príncipe e o sabiá”, 1994, diz em um trecho que “o melhor da pátria, quem sabe, são os poetas, a quem se fecham todas as portas, para que eles sejam mais livres e vejam mais longe. Sonham Pasárgada.”
Manuel Bandeira foi da geração de 1922 do Modernismo, mas teve desavenças com Oswald de Andrade. Recusou-se a assinar o Manifesto da Poesia Pau-Brasil e chegou a escrever um artigo detonando. Oswald, notório piadista, arriscava perder um amigo, mas não a oportunidade de uma brincadeira. E no embate entre os gênios, teria dito que “um poeta é sempre bem-vindo, e mais bem-vindo se é Manuel, Bandeira do Brasil”.
Chiste ou não, já saudara com distinção o que Lara Resende escreveu com louvor em sua crônica.
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