“Quem é essa mulher / que canta sempre esse estribilho / só queria embalar meu filho / que mora na escuridão do mar”
Essa mulher é Zuzu Angel. Esses versos são da música Angélica, que Chico Buarque compôs para ela, logo após sua morte em 1976, e está no disco Almanaque, de 1981. O filho que deixou de ser embalado pela mãe era Stuart Angel, estudante de Economia, militante do MR-8, preso em maio dos anos de chumbo de 1971, por agentes do Centro de Informação da Aeronáutica, torturado e assassinado, e o corpo possivelmente jogado na escuridão do mar. Tinha 25 anos, hoje faria 76.
Há relatos horríveis de testemunhas que estiveram com o rapaz na prisão, como o poeta Alex Polari, que disse ter visto ser arrastado por um jipe, com a boca no cano de descarga. A mãe, estilista reconhecida no Brasil e no exterior, dedicou sua vida a denunciar a morte do filho, enfrentando com coragem os generais da ditadura, apontando-os nominalmente, criando peças com estampas que representavam o período de repressão em que se vivia. Sempre ousada em suas criações, fez roupas com pedras e rendas do Nordeste, desvinculando-se da maneira colonizada de se vestir.
Zuzu Angel morreu misteriosamente em “acidente” de automóvel na saída do túnel Dois Irmãos, na Estrada da Gávea, Rio de Janeiro, local que hoje tem seu nome. Uma semana antes, entregou a Chico Buarque um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, onde escreveu: "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho".
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