sábado, 29 de janeiro de 2022

paixão pela palavra

                                       

foto Jay Garrido

Deram-me água e foto

          para fazer vida. 
Deram-me a palavra
           para construir o sonho.
- "Dádiva de palavra", poema de Calane da Silva, publicado em "Lírica do imponderável e outros poemas do ser e do estar", pela Maputo: Imprensa Universitária, 2004.
Com uma vasta obra entre poesia, contos, romances, ensaios e participações em antologias, Raúl Alves Calane da Silva é uma das maiores expressões da literatura moçambicana. Em uma de suas últimas entrevistas ao portal Villas & Golfe Magazine, disse que desde muito cedo apaixonou-se "definitivamente pela palavra, essa nota musical do criador em nós."
Mesmo tendo publicado somente dois livros de poesia – o outro é “Dos meninos da Malanga”, de 1982 -, sua escrita em prosa é marcadamente poética, comprovando sua destreza ao esmerilar cada palavra e mostrar a alma que ela tem sob diversos aspectos.
Em sua vida acadêmica especializou-se em lexicologia com doutorado em linguística portuguesa. A tese "Do léxico à possibilidade de campos isotópicos literários", apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2009, disponível na Internet, é uma precisiodade na abordagem liguistíca e o fazer poético na obra do compatriota José Craveirinha (1922-2003), Prêmio Camões de 1991, considerado o maior poeta de Moçambique.
No começo de janeiro de 2020, nestes tempos açorados de males e esperanças em que ainda vivemos, Calane da Silva foi internado num hospital em Maputo, com fortes sintomas de Covid-19. Dias depois, na tarde do dia 29, faleceu aos 76 anos.
Como tinha escrito em “Lírica imponderável...”, “No gesto / cumpre-se / um tempo / palavra sôfrega / de futuros.”

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