fotos Rubens Venâncio
Em outubro de 1977 o jovem cantor e compositor sobralense Vicente Lopes foi o vencedor do III Festival Musical do Mandacaru, certame estadual apresentado em sua cidade, com a canção Vira vento.
É na virada da década que o cantor com sua belíssima voz se destaca mais, participando dos quatro dias de som, imagem, movimento e gente Massafeira Livre, no Theatro José de Alencar, em Fortaleza, março de 1979. Vira vento entra na seleção das 24 faixas do disco duplo lançado no ano seguinte ao evento, pela CBS.
Em entrevista gravada sábado passado para o documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B, Vicente Lopes falou da importância da Massafeira na história da música cearense, como “um movimento que se caracterizou pela diversidade, onde todos participaram com seus trabalhos”, e enfatiza que a “Massafeira foi realmente Livre, teve da música do Cariri ao rock, ao blues”, revelando artistas vindos depois do que se denominou Pessoal do Ceará a partir de 1973, com o lançamento do LP Pessoal do Ceará – Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem.
Autor de vários outras canções, parceiro também de Ednardo e Climério em Lagoa de aluá, 1979, Vicente Lopes falou sobre a inspiração para Vira vento. A composição é o mais fiel relato daquele momento, mostrando “no peito os moinhos da esperança” que “giram sem cessar”. O artista sabe que os caminhos não são fáceis, e que se um dia cansasse “dessa incerteza, dessa agonia” de não mais saber por qual afluente do destino desaguar seu sonho, diria que “eu mesmo serei o cigano a ler a minha própria mão” – e aqui manifesto a minha profunda admiração por um dos mais belos versos da música brasileira, de uma canção que é toda um poema de forte entonação lírica.
O trovador, persistindo em seu caminho, jogará “folhas secas no ar / para ver onde vai a ventania”, pois tem “sempre no peito a certeza / daquela velha vontade de cantar. ”
Vira vento dialoga nessa inquietação e sonho com outra canção do disco, Pelos cantos, de Graco. Mas, na essência do que move os moinhos da esperança, todas as faixas que giram nos dois vinis Massafeira expressam essa busca e essa vontade de cantar, de um novo cantar a velha vontade de cantar.
Se o disco não teve a merecida projeção nacional, se faltou um melhor trabalho de distribuição, se ficou restrito ao reconhecimento da aldeia cearense, essas e outras questões estão no documentário através das falas dos entrevistados, analisando com o distanciamento da linha do tempo. O tempo lendo a própria mão 40 anos depois.
fotos Rubens Venâncio
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