Na etapa de edição do documentário Pessoal do Ceará - Lado A Lado B, a produção agendou algumas entrevistas que não foram possíveis no mês de agosto. Wagner Costa, no caso, estava internado, cuidando da saúde, num processo a que periodicamente recorre.
Tinha 17 anos e assinava Tazo Costa quando participou dos quatro dias de som, imagem, movimento e gente que fizeram o evento Massafeira Livre em março de 1979 no Theatro José de Alencar. Sua beleza física e voz potente encantavam no palco ao interpretar sua canção Isopor, a que eu esperava ver, ouvir e gravar na entrevista 42 anos depois.
Durante uma hora conversamos com as câmeras ligadas, o microfone lapela aceso no peito, a claquete recortando a realidade. Oscilando entre a surpreendente reflexão e o delírio cogitativo, Tazo considera, olhando para trás, que “a Massafeira foi um despontar de ideias, de política, de revolução, e de uma geração que unificava, pelo Ednardo, a música do Ceará”, pisa no chão do presente com a convicção de que “não estou com plano de fazer show, não estou com plano de ir pra estúdio, a saúde já não está boa”, vislumbra um futuro onde “na minha cabeça, atualmente, está mais para o mundo do céu do que do sucesso”.
E olhando-me com o mesmo sorriso adolescente nos olhos que conheci no palco e nos bastidores da Massafeira, disse que não sente mais frustração, que a gravação de sua música no disco coletivo de 1980 “é o meu registro, a música de sucesso do meu coração, ela não aconteceu, mas é a música que representou toda a minha trajetória."
Não cantou, mas quis ao final dizer a letra da canção. Disse com uma pronúncia gutural que emocionou toda a equipe. Disse como quem declama um poema e espanta uma dor:
Eu vou sair desse jogo malvado
você só quer me ganhar
um homem triste, sentado, roubado
pensa em suicidar-se.
Um pombo voou, voou, e um indivíduo matou
ai, ai, grita o pombinho caindo
eu não sou de isopor
fechando os olhos, ele morre
e tudo acabou.
Um prisão coberta de espinhos
não pode brilhar
liberdade, sim, é preciso
para melhor pensar.
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