Os senhores da terra, 1970, Sagarana, o duelo, 1974, Soledade, 1976, A batalha dos Guararapes, 1978, Águia da cabeça, 1984, Jorge, um brasileiro, 1989, são alguns dos filmes dirigidos pelo cineasta Paulo Thiago nessas duas décadas produtivas do cinema brasileiro. Nos anos 90 e 2000, Vagas para moças de fino trato, Policarpo Quaresma, herói do Brasil, Poeta de sete faces, O vestido, Orquestra dos meninos, Doidas e santas, Memórias do Grupo Opinião, mesmo entre altos e baixos como produto final criativo em relação aos títulos anteriores, Paulo Thiago manteve, em documentários e ficção, o Brasil como personagem principal em sua filmografia, adaptando obras da literatura de Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, dramas históricos, alegóricas histórias inspiradas em fatos do interior de sua natal Minas Gerais e adaptações de peças teatraisse.
O documentário Coisa mais linda - História e casos da Bossa Nova, de 2005, destaco como um ótimo painel informativo sobre o nascimento desse movimento de renovação do samba irradiado a partir da Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro no final da década de 1950.
O filme é praticamente conduzido pelos compositores Roberto Menescal e Carlos Lyra, que percorrem lugares por onde o movimento surgiu e se desenvolveu, e teve seu ponto alto em 1962, quando os seus principais e seminais representantes apresentaram um show no Carnegie Hall, em Nova Iorque. O disco de João Gilberto, Chega de saudade, 1959, a sofisticação do piano de Tom Jobim, a poesia de Vinicius de Morais, são alguns outros itens abordados para a compreensão do que é classificado como a modernização da música brasileira.
Entre vários entrevistados, há declarações reveladoras como a de Cacá Diegues, “Enquanto o Cinema Novo tentava registrar aquele Brasil que a gente não gosta de ver, a Bossa Nova registrava o Brasil que a gente gostaria de ser”, e curiosa (ou exagerada?), como a de Nelson Motta, "João Gilberto é nosso pastor. Nada nos faltará! O Salmo 23 em versão Bossa Nova." O ponto de vista de cada um converge para o olhar atento, analítico e contemplativo do cineasta sobre esse período importante e mostra àqueles que não pressentem que no peito desses “desafinados” inovadores também bate um coração.
O cineasta faleceu nesta madrugada de sábado aos 75 anos, de uma parada cardíaca após uma doença hematológica. Não conseguiu concretizar os projetos Rabo de foguete, filme baseado na obra de Ferreira Gullar, e um documentário sobre o grupo MPB4.
A esses personagens brasileiros, filmados e não filmados, a câmera de Paulo Thiago revelou sua enorme gratidão.
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