sexta-feira, 11 de junho de 2021

a ídola


Quando se retirou do cinema, o mundo inteiro ficou vivo nela.

Tinha nascido com outro nome, e graças à sua beleza gélida mereceu ser chamada de Divina, Esfinge Sueca, Vênus Viking...
Meio século depois do adeus, Justo Jorge Padrón, poeta espanhol que falava sueco com sotaque das Ilhas Canárias, estava olhando uma vitrine de uma loja de discos em Estocolmo, quando o vidro descobriu o reflexo de uma mulher alta e altiva, envolta em peles brancas, parada às suas costas.
Ele deu meia-volta e viu a mulher, queixo erguido, grandes óculos escuros, e disse que sim, era, disse que não, não era, que era, que não era, que podia ser, e por pura curiosidade perguntou a ela:
- Desculpe, mas... mas... a senhora não é Greta Garbo?
- Fui – disse ela.
E com lentos passos de rainha, se afastou.

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Do livro póstumo de Eduardo Galeano, O caçador de histórias, 2016, uma compilação de mais de duzentos textos curtos, que mesclam relatos de amigos e autobiográficos.
O escritor uruguaio trabalhava nos últimos retoques do livro antes de falecer, aos 74 anos, numa manhã de abril de 2015.
Imagem ilustrativa para esta postagem:
Garbo no Club St. Germain, Paris, anos 50, fotografada por Georges Dudognon (1922-2001).

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